" O POETA E A MORTE "

Essa noite eu tive um sonho,

Que me pareceu tão real,

Recebi a visita da morte,

Dizendo, acabou sua sorte,

Chegou o seu dia afinal.

Era uma noite sombria,

Como a tempos eu não via,

Ao lado da cama uma foice,

E a morte dizendo finou-se !

Eu vou te levar com alegria.

Eu na cama apavorado,

Tentava em vão levantar,

Pensava comigo, é um sonho,

Não existe esse bicho bizonho,

Já já eu vou acordar.

Mas o tempo passava e nada,

No rosto a mão seca e gelada,

A morte dizendo baixinho,

Eu vou te mostrar o caminho,

Dessa viagem esperada.

A morte pegou-me nos braços,

Levando-me com lentos passos,

num caminho que tinha um penhasco,

Agora pensei, eu me lasco !

Do tinhoso recebo um abraço.

Então eu pensei uma idéia,

Eu vou enganar essa véia,

Se é pra ir pras profundezas,

Ela pode ter certeza,

Vai ter trabalho, a mocréia.

Ai perguntei, dona morte,

Por que comigo essa sorte ?

Ainda sou tão novinho,

E além do mais tão bonzinho,

Por que eu nessa lista de corte ?

A morte falou, pra que tanto ?

Eu só sigo a lista e pronto,

Não escolho quem tem que morrer,

Aliás eu nem quero saber,

Se o sujeito é malvado ou é santo.

Então supliquei pra magrela,

Eu não quero ir pra panela !

falam que o inferno é triste,

de mim dona morte desiste,

E sai por aquela janela.

Disse a morte, mas que graça,

Um marmanjo com pirraça,

Aceite logo seu destino,

Pois não és nenhum menino,

Pra ficar borrando as calças.

Dona morte, mas que pressa,

Eu não quero passar dessa,

deve haver algum engano,

Da minha vida fiz plano,

E vem a senhora com essa.

Não tem engano não !

Vou te por no rabecão,

Está na lista vou levar,

Pode até espernear,

Mas fugir não foge não.

Dona morte esqueça a lista,

Pelo amor de deus desista !

Eu não vou agora não,

Nem que fosse de avião,

Eu seguia a sua pista.

A morte ficou furiosa,

E disse , eu acabo essa prosa,

Querendo ensinar meu oficio ?

Já tive presunto difícil,

Mas esse me deixou nervosa.

A morte perdeu o decoro,

E disse, não sou calouro !

Mesmo não estando na lista,

Eu te falaria, desista !

Levo pelo desaforo.

Não leva de jeito maneira,

E largue de tanta besteira,

Isso aqui não é real,

È sonho, não tem nenhum mal,

Eu acordo e acaba essa asneira.

Disse a morte, que frescura,

Você vai pra sepultura,

Fez da vida o que bem quis,

Vai comer grama pela raiz,

Ser adubo de verdura.

Nisso ouvi a zoada,

Do relógio em disparada,

E acordei do pesadelo,

Que me serviu de modelo,

Deixando a cama molhada.

E pensei,meu Deus que sorte !

Escapei das mãos da morte,

E refleti sobre a vida,

Essa estrada colorida,

Que só cruza quem é forte.