C 26 FOI-SE A VIDA DE ARTISTA (Dez anos numa montanha)

01 Daqueles fatos marcantes

Em minha lida passada

Os meus dias de piloto

Deixou marca registrada

Só não morri de desastre

Por não ter hora chegada.

02 Nos seguimentos da tela

Da minha vida apontada

Logo apareceram cenas

De outras vias avançadas

Em que passei um bom tempo

Vagando pelas estradas!

03 Em tais dias me esqueci

De toda a responsabilidade

Tudo, por haver trabalhado

Em um circo na cidade

Na arte de trapezista

Da qual não tenho saudade.

04 Nas cordas eu era bamba

E tinha muita esperteza

Principalmente por que

Havia uma beleza

Que comigo contracenava

Com sublime gentileza

05 Era uma linda jovem

Cujo nome era Safira

Do dono do circo ela

Era a única filha

Eu muito me apaixonei

Fiquei preso em tal embira!

06 Digo que aquela paixão

Me deixava entrelaçado

Em todos os espetáculos

Por Safira era abraçado

Nosso amor, pois discorria

De um formato arranjado

07 De um balancim eu ia

Para onde Safira estava

No ar pegava seus braços

E nós dois rodopiava

Nossa prática era tanta

Que a plateia vibrava

<>

08 Ali, em plena montanha

Como dentro de um cinema

Eu ficava admirado

Assistindo aquelas cenas

Trinta anos eram passados

Que saí daquela arena!

09 Minhas lágrimas caíam

Pelo filme ao assistir.

Percebendo o menino

Ele pôs-se a me inquirir

-Por que choras, ó peregrino

Por ver esse seu agir?

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10 –Eu choro pela saudade

Da minha antiga paixão

Safira era minha esperança

De viver pelo mundão

Mas casou-se com um artista

Chamado Zeca Ladão!

<>

11 Confesso que fiquei triste

Por ver meu tempo de artista

Pois me desgostei do circo

E fui vagar pelas pistas

Como um pobre andarilho

Mais de dois anos, em tal risca

12 Mas não podia reclamar

Por ter perdido o amor

Pois mesmo sendo um peregrino

Eu ganhei novo penhor

Por Deus eu fui contemplado

Com o dom de escritor.