A CACHORRA DE PARIS

Com esse tal de baile funk

ficou tudo sem respeito,

a família virou punk

e educação não tem jeito

Prestem muita atenção

pra história que vou contar,

não é nenhuma invenção

tudo que aqui vou narrar

Conheci uma menina

muito bem apessoada,

coitada da sua sina

bem cedinho ficou lesada

Foi pra França estudar

e não aprendeu a lição

Só pensava em namorar,

veio daí a perdição

A família, gente fina

mandava grana da boa

mas a maldita menina

queria ficar à toa

A madrinha, mui carola

mandava presentes finos,

até suco de acerola

e docinhos quase divinos

A menina nem ligava

para qualquer regalia,

mais à toa ela ficava

e assim curtia a alegria

Todos pensavam que ela

estava muito estudando,

que Cultura vivia nela

e a vida ia levando

Mas a pobre baianinha

estava era na bandalha

não aprendia nadinha;

vivia com gente canalha

Pensava que "pomme de terre"

não era coisa de comer

Nem lendo o tal do Voltaire

ela conseguiu aprender

Quando descobriram a verdade

foi verdadeiro alvoroço:

se espalhou pela cidade

que a pimpolha era um caroço

A família da Bahia

plantadores de cacau

não via chegar o dia

de castigar-lhe com pau

Uma surra bem danada

para a menina aprender

que dinheiro é coisa suada

e não é pra despender

Cortaram assim a mesada

e deixou-lhe a ver-o-léu

Não teve jeito, a coitada:

foi trabalhar num bordéu

Depois de muita andança

sem conseguir o que queria

foi logo expulsa da França

voltando assim pra Bahia

Quando chegou na Bahia

a família muito fina

não contou o que sabia

da filha pra lá de traquinas

Quis arrumar um partido

logo; belo e apessoado,

assim ficava garantido

um casamento apossado

Mas a menina, a escrachar

arrumou foi um bom tigrão

e passou logo a desfilar

sua febre de tesão

Ia pro baile e dançava

o belo e bom vai-e-vem

diziam até que esperava

no bucho um filho do trem

Levava tapa na cara,

sorria e achava bom

Carinho era coisa rara

sem sair nunca do tom

Vivia de noite em noite

numa louca brincadeira

acalmando o seu afoite

com a dança da cadeira

Assim viveu pertubada

Como pode e como quis

Na turma era chamada

de A Cachorra de Paris