O ENCONTRO DO ATEU COM CHICO XAVIER

Honorato fazendeiro

Tinha glebas de montão

Homem rico e temido

Por todos da região

Era grande produtor

De arroz, trigo e feijão.

Casado com dona Rosa

Filha da rezadeira Zezé

Conhecida no lugarejo

Pela força da sua fé

Falava com espíritos

De homem, criança e mulher.

Estava sempre disposto

Só vivia pra trabalhar

E no final da labuta

Ia sempre bebericar

Zombava muito da morte

E gastava pra namorar

Dona Rosa muito fraterna

Era toda doação

Com a força da caridade

Criou uma associação

Unidos de campestre

Em apoio aos seus irmãos

Os setes filhos do casal

Pela mãe tinham devoção

Pelo amor desprendido

E enorme dedicação

Levando pão e carinho

A quem tava na aflição

A reza de dona Rosa

Todo cristão procurava

Grávida, pobre, doente.

Rico, idoso, alucinada.

O passe daquele anjo

Muita alma aquietava

Honorato que se dizia ateu

Via Rosa com ironia

Falava que sua bondade

Uma santa lhe faria

Com foto ao lado do Papa

E com direito a romaria

Um dia embriagado

Ele se aborreceu

Em vê sua fazenda

Com tantos plebeus

Proibindo a esposa

De partilhar o que era seu

Destruiu a entidade

E a todos expulsou

Gritava que aquele povo

Ele sempre ajudou

Dando muitos empregos

Nas terras que herdou

Dona Rosa muito triste

Não se deu por vencida

Continuou a caridade

Mas sempre às escondidas

E pedia nas orações

Por aquela gente sofrida

Passado um certo tempo

Honorato adoeceu

Acometido pela cirrose

Com seis meses faleceu

Foram momentos sofridos

E a família padeceu

A esposa muito zelosa

Do infeliz foi enfermeira

O medo que tinha da morte

Só o fez falar besteira

Blasfemava contra Deus

Dizendo muita asneira

O finado foi embora

Carregando incredulidade

Nem a dor o fez enxergar

A esplendida imortalidade

Começando outro martírio

Na espiritualidade

Foi dolorida surpresa

Assim que acordou

Vendo o corpo no túmulo

Sentindo o frio que o abraçou

Gritou muito revoltado

Mas só o silêncio escutou

Honorato que fora rico

Valente e muito forte

Era só desespero

Ante a traição da sorte

Agora não era nada

Na frente daquela morte

Vários dias passaram

E a dor o perseguia

Foi visitar sua fazenda

Que há muito já não via

Enxergou uma multidão

Em alegre serventia

No alto da colina

Viu um grande casarão

Na frente uma placa

HONORATO FUNDAÇÂO

“Aqui plantamos o amor”,

Pra socorrer o irmão ““.

As imagens de solidariedade

Em sua fazenda encenada

Tocou-lhe o coração

Vendo a família amada

Na paz e contentamento

E na ajuda obstinada

Debaixo do ingazeiro

Muito tempo ele chorou

E foi nesse momento

Que a Deus imaginou

Perguntando aos ventos

Se não se enganou

Logo em seguida

Uma tela lhe apareceu

Lembrando uma TV

Que sua vida discorreu

Triste e envergonhado

No choro desfaleceu

Quando abriu os olhos

Sentiu paz e ternura

Parecia um hospital

Onde estava aquela altura

E um espírito se aproximou

De uma grande envergadura

O semblante lhe era familiar

De um livro que recebeu

Presente de dona Rosa

Assim que adoeceu

Na presença daquele homem

Sua alma estremeceu

Não sabia o que dizer

Nem mesmo como agir

Contemplou a bela luz

Acanhado de ouvir

Mas depois de refeito

A coragem o fez seguir

Indagou onde estava

E que tempo iria ficar

Temendo a resposta

Tornou-se a chorar

Lembrando dos açoites

Que mandava aplicar

Ajude-me, por favor,

Irmão Chico Xavier

Seu Deus esqueceu de mim

Veja a vida como é

Fui grande plantador

E amigo de Padre Zé

O quê na vida plantou?

Chico lhe perguntou

Eu plantei de tudo

Sendo quem mais cultivou

Ainda criei sete filhos

Que a mãe bem os educou

E o teu glorioso deus

Não vejo desde chegado

Onde ta esse homem

Que dizem bom e ajustado?

Quero falar com ele

Pra ser ressuscitado

Desde pequeno sou honesto

Minha honra foi exemplar

Fui de muitos amigos

Pude até esmolar

Portanto não é justo

Que eu fique do lado de cá

Chico ternamente pensando

Apiedou-se em profundo

Era o pobre espírito

Mais um perdido moribundo

Iludido com a matéria

E os prazeres do mundo

Depois lhe estendeu as mãos

E a um passeio lhe convidou

Voltaram à fazenda

Que muito mais modificou

Havia até cooperativa

Que a produção triplicou

Ergueram uma creche

Praça, asilo e hospital.

Ao vê tudo aquilo

Honorato passou mal

Dizendo que a esposa

Deu-lhe golpe “mortal”

Chico o fitou risonho

Com amor e compaixão

Dona Rosa viu os dois

Num claro azulão

Ele ao perceber a esposa

Teve grande comoção

Disse ela: meu amado

Deus lhe trouxe até aqui

Pelas mãos de um anjo

Para o ver agir

Fica em paz e procuras

O Deus dentro de ti

Temos grande saudade

E todos oram pra você

Pra que possas retornar

Renovado noutro nascer

Aqui estamos felizes

Como podes perceber

Voltando ao hospital

Chico foi lhe visitar

O fazendeiro intrigado

Pôs-se a perguntar:

Porque me levaste a campestre

Que só me fez torturar?

De onde vieste

A maior fome é de amor

E nessa divina seara

Muito pouco você plantou

Até mesmo a tua alma

Quase não se alimentou

Quiseste vê Deus

E levei-te pra que vistes

Ele é amor e união

É caminho para os tristes

Explicação e fundamento

Pra toda vida que existe

Inteligência suprema

Causa primária de tudo

Deus ama a todos

Dos loucos aos sisudos

Dando sempre outra chance

Pra correção dos absurdos

Ama ao teu próximo

Como bem ensinou Jesus

Que a tua colheita

Será de muita luz

Pois fruto que alimenta a alma

Só o amor quem o produz

Honorato abriu um sorriso

Serenando o coração

Fortemente abraçou Chico

Em fervorosa oração

Clamou o amor de Deus

A paz e o seu perdão...

Jairo Lima
Enviado por Jairo Lima em 25/02/2007
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