SÚPLICA DO COMPADRE ZÉ.
Deus, grande Deus, espia cá,
Na terra que vossas mãos criô,
As coisas anda mesmo de fasto,
Seu povo perdeu o amô ,
O Deus de todos é dinheiro,
Um paper de muita cobiça,
Que até nas igrejas é Deus.
O homem perdeu sua valia,
Só vale o bem que possui,
O homem limpo é invisível,
O abastado é demais mirado,
Se é feia ,mulher faz a prástica,
Só para virar uma musa,
O homem então cresce o zôio,
Em uma beleza confusa.
Deus ,grande Deus por favor ,
Pra modo das coisas arrumá.
Atendei a minha súprica.
A escola agora é muderna,
Sumiu-se o professor,
O aluno diante da tela,
A tela defronte o aluno,
Nessa distância medonha ,
Ensina-se e aprende a distância,
Sem a mágica do professor.
No fim fornece o canudo,
O cidadão graduado sai,
A escola encheu-se os cofres,
O pobre encheu-se de esperança,
O aluno vai pro mercado,
Concorrê a uma suada vaga,
Mas a concorrência marvada,
O pobre vorta pra casa,
Com face angustiante,
Na instante ,o canudo no quadro,
O pobre formado contempla.
Deus grande Deus , venha cá,
Pra modo das coisas arrumá,
Pra a mente do homem aclara.
O estado perdeu se poder,
O crime virou um estado,
Tornou-se um poder paralelo,
Mas com as funções de estado.
Deus grande Deus venha cá.
Socorrê o homem de bem,
Que entre o estado e o crime,
Não tem prá onde escapa,
O crime impiedoso lhe rouba,
O estado faminto lhe castra,
Com altos tributos cobrados.
Deus ,grande Deus venha cá,
A coisa aqui inverteu-se.
Bandido ganhou a liberdade,
Falo e afirmo essa verdade,
O homem de bem como cárcere,
Em sua casa, prisioneiro ficou.
A noite é palco do crime,
Em todo canto que se vai,
Estado e crime se embolam,
Em uma batalha infernal,
Policia prende os bandidos,
As leis lhe abre as cancelas.
E nesta estrada de espinhos,
O homem de bem se arrasta.
Deus,grande Deus venha cá,
Pra modo da lei decreta ,
Nesta pátria desalmada.
O povo não para nos sertões,
Aonde o ar é muito mais ar,
Largam as casinhas modestas,
E vêem pra as metrópoles buscar,
Com sua santa alma impoluta.
Com risco contaminar-se,
Deus grande Deus venha cá,
Aconselhá o homem do campo,
Que perde em se o encanto,
Que o Deus do sertão concedeu.
No campo o homem é irmão,
É alma dos santos anjos,
As mãos se estende aos outros,
Pra dor doida acarmar.
Pastagens distantes perderam,
O colorido do verde e do gado.
O homem do campo absorveu ,
A praga da cidade emanada,
A fúria pelo dinheiro criada,
O santo homem tomou,
Fincando nos verdes campos,
Infindáveis florestas de eucalipto.
As águas sumiu das nascente,
Pela seiva do pau sugada.
As culturas perderam lugar
Para as cobiças desvairadas .
O que penso agora meu Deus,
Para um futuro bem próximo,
É que o homem vai cumê pau,
De tanto pau curtivado.
Deus grande Deus venha cá,
Salvar o nosso belo sertão ,
Fazer as águas brotarem,
Fazer a mata nativa aflorar,
Voltar o caipira pro mato,
Pra modo a felicidade encontrar.
Deus grande Deus venha cá.