Simples

Ainda era tempo em que dona Cora, mulher do coronel Tonho da Ponta, descia a rampa da Casa Grande pra receber encomenda no portão. Lembro que a barriga dela já tava aparecendo por de baixo dos panos largos que usava. Tava prenhe a tal coroné. Coronel Tonho que não era de risos vivia numa felicidade de se ver os dentes de lata dele.

Na minha casa mesmo também tinha novidade, acho que o ar novo da patroa vinha trazendo coisa nova pra fazenda. Ela andava triste por conta das pulada de cerca do coronel. Eu mesmo só a via chorando nos cantos do casarão. A coroné casou menina moça ainda muito novinha enquanto que o coronel já era homem experto, já tinha provado damas de todos os valores, além de moças de todas as idades, umas porque queriam outras porque não tinham força de fugir das mãos fortes do coronel. Sei que na minha rede mesmo seu Tonho já apertou minha irmã mais velha, mas faz tempo isso, eu ainda não cuidava dos cavalos dele. Cuidava mesmo era de ganhar umas moedas carregando os sacos que vinham de longe na carroça pra dentro da casa. A negra da cozinha brigava comigo que eu era lento e eu corria com as sacas pesadas nas costas e ela batia com as cinhelas nas minhas ancas pra eu ir depressa. O tempo passou e era eu que batia nas ancas nuas dela pra ela aguentar calada. De vez em quando ainda passo por lá pra ver se a negra me aguenta. Olha que tem dia que sou eu quem não aguento ela, êta negra forte essa!

A novidade de casa é que finalmente minha doce esposa emprenhou. A gente trabalhou pra isso todos os dias da semana no último mês. Êta que quase que não aguento as duas! Mas é que a negra eu só visito de vez em quando, quando o dia tá quente.

Tinha dia que a patroa chorava dengosa naqueles paninhos leve que usa, paninhos ralos, quase transparentes. Tinha dia que ía lá ver a cavalada toda no estábulo; era nesses dias que eu não aguentava e tinha de aliviar com a negra; e se a negra tava ocupada na cozinha tinha de me aliviar sozinho; e se sozinho não bastasse tinha de olhar pra Malina égua vencedora de corridas até; ou voltar pra casa correndo na hora do almoço e suspender a minha moça no meio da sala, na porta de casa, na berada da pia!

Patroinha chorava que não conseguia fazer filho e seu Tonho vinha procurando diversão em outros peitos. Dona Ponta tava era visitando demais a cavalada e eu me estourando demais de vontade daquela pele macia. A dona moça passou mal de repente e caiu de pronto no meio da palha, corri pra ajudar e ela percebeu que eu tava no ponto de correr risco de vida. Dona moça me pegou chorando, soluçando me levou pra de perto dela. Eu até demorei pra entender, mas tirei a roupa mais rápido do que dona Ponta podia secar a cara dela. A gente rolou foi ali mesmo. E foi três vezes naquela tarde.

Na cozinha antes de ir embora a negra ainda me pegou pra trabalhar.

Passaram uns dias sem que a patroa fosse me ver no estábulo e olha que depois de mês eu vi que finalmente ela tinha pego o patrão de jeito. Tava a grávida a dona Ponta.

Dia desses cheguei em casa e a minha dona é que estava chorando baixo, ela não queria falar e eu consolei bem do meu jeitinho. No dia seguinte no trabalho patrão disse que tinha visitado meu rancho pra ver em que pé andava o meu progresso. Disse que se demorou um pouco porque a minha dona tinha feito broa pra ele. Estranho foi que não vi broa na cozinha naquela noite.

Às vezes eu penso se não é meu aquele patrãozinho e se não é do coronel o meu moleque que brinca com ele. Mas quando eu penso assim a minha cabeça dói e eu corro logo pra cozinha pra pedir caldo praquela negra.