A CRUZ DA ESTRADA.

A cruz esquecida relata

Fincada entre o torrão

Sob o sol empoeirada

Quase bem rente ao chão

De madeira seca e rachada

No meio da vastidão.

A cruz da estrada relata

Do filho que foi estudar

Na capital dos seus sonhos

Para o sonho realizar

Mais o destino não quis

Que ele pudesse voltar.

Entre a cruz e a estrada

Tanta história estancada

Muitas idas sem as vindas

Tanta lágrima derramada

Só sobraram alguns desejos

Muito pouco quase nada.

A cruz chorosa relata

Da ida de um inocente

Que não avançou na vida

Nasceu, já partiu tão recente

Veio anjo e voltou tão anjo

Se quer se tornou vivente.

A cruz da estrada entoa

Um aboio mudo e dolente

Mostrando que ali tombou

Um vaqueiro forte e valente

Que viveu como vivi a cruz

Sob poeira e sol quente.

Quem passa ver mais não sente

O que a tal cruz faz sentir

A dor de quem cá ficou

Por quem passou a ir

A cruz é fiel retrato

Do pranto de quem viu partir

A cruz não marca alegria

Na noite que já vem vindo

A lua lhe serve de vela

E a nuvem lhe vai cubrindo

O corpo frio da noite

Com o luto que está vestindo

A cruz molhda no inverno

Com as lágrimas da natureza

Representa fria homenagem

Das vidas em correnteza

Descendo os rios da morte

Que é a nossa única certeza.

Ali sem flôr que lhe enfeite

È a marca que foi o fim

De uma jornada passada

De tantas passadas assim

Nus seus braços se quer lhe jogam

Um ramo de alegrim.

Ebenézer Lopes
Enviado por Ebenézer Lopes em 27/12/2012
Código do texto: T4054992
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