O CAUZO DAS FRUMIGAS CUSTUREIRA & CAUSU ASSUSTADÔ
(Airam Ribeiro / Hull de La Fuente)


Um duelo de "causus fantásticos" para encerrar o ano, proposto pelo compadre AIRAM RIBEIRO. FELIZ ANO NOVO A TODOS OS RECANTISTAS!
 

Nas era de antigamente
Cunticeu  na zona rurá
Este cauzo de dizê oxente!
Mas qui cauzo ispetaculá
Vô falá deste cunticido
Sem nem fazê alarido
O qui cunticeu nun currá.
 
Lá tava o seu Sebastião
Qui era o pai de Zégazim
Tomém tava o seu Lesbão
O Jura qui contô pra mim
Apariceu uma vaca ciumenta
Braba quinén uma jumenta
Quando li farta o capim.
 
A vaca era uma xifruda
Qui vêi pra cima do Lesbão
Esse falô Deus mihn acuda!
E subiu inrriba dum moirão
Tião dipreça correu
O Zégazim só percebeu
Quando já tava caído no xão.
 
A vaca li deu uma xifrada
Na capanga d ovo guardá
Qui a bixa ficô pindurada
Só por um fiozin a ligá
Foi aí qui então apariceu
O pai do tenente Romeu
Para a capanga custurá.
 
Onde era qui ia axá a linha
Ali naquele dizispêro
Em nium canto nun tinha
Arguma linha no terrêro
O seu Romeu astuciô
E percurá então mandô
Tião axá um furmiguêro.
 
Intão sairo os pessoá
Im buscá dum furmiguêro
Para as frumigas incontrá
Bem depréca e bem digêro
Foi aí que argúem axô
E todas as frumigas pegô
Cum ajuda dos cumpaêros.
 
Zegazim tava gemeno
Cum a capanga por um fio
Todos no currá tava veno
Ele já cum os calafrio
Seu Romeu a capanga pegô
Na outra parte se ajuntô
E muita dô Zegazim sentiu.
 
Foi aí qui as frumiga
Se entráro na questão
No encostá as amiga
Començô entrá em ação
O seu Romeu apertava
Quando as garra enlargava
Ele tirava a bunda cás mão
 
De modo qui as amiga
A capanga costurava
Cada vez qui uma frumiga
A capanga ferruava
Fazeno o ajuntamento
Fizéro os custuramento
No silêncio qui reinava.



 
Já era quase noitinha
Quando o seuviço terminô
No xão só as bunda tinha
Pois foi só o qui restô
Cum a capanga xêia de ferrão
Zegazim só gemia então
Despois qui os ferrão ferruô.
 
Assim foi feita a costurança
Da capanga de Zégazim
E ele agora tinha isperança
De já fazê arguns fiim
Assim conto as pessoa antiga
Qui graças aquelas frumigas
A capanga ta cuns ovo de Zégazim.
 
Minha cumade, o úrtimo duelo do ano qui ta cabano.
Desejo a sióra e a todos os recantistas um Feliz Ano Novo.
 











 
Causo assustadô
 


 
Meu cumpadi eu aquerditu
Nessi causu assustadô
Pois um fatu isquisitu
Eu vô contá pru sinhô.
Cuntiticeu cuma minina
Pras banda di Xavantina
Im Mato Grosso, meu amô.
 
Mais antis queru dizê
Cum muita dimiração
Quessi seu acunticê
Tirô minha rispiração.
Cas frumiga custurêra
Qui custurô as bestêra
Do Zegazim cum ferrão.
 
É pussive, meu cumpadi,
Eu num vô duvidá não
Im nomi da amizadi 
I da grandi afeição.
Mas o Juca mi contô
Qui o tenenti custurô
Cum um fio muito  du bão.
 
Era o cabelo do rabo
Da vaquinha ciumenta
Qui duzovo quais deu cabo
Pur agi cuma jumenta.
Zegazim de Elesbão
Cum o alguidá quase bão
Ainda di dô lamenta.
 
Mai a minina do fato
Cunticidu im Xavantina
Pra biologia é um ato
Qui intriga a medicina.
Ela ingole  um ovo intero
E digu sem izageru
Ele sai pela narina.
 
O ovo sai ínterim
Sem o menó arranhão
Num tempo bem ligerim
Nem cuzidu fica não.
Na cidade o povo diz
Por ovo pelo nariz
Mais pareci mardição.
 
Xavantina, ocê sabi,
Na bêra do Rio das Morti
Um lugá bom di verdadi
Mas morá lá num dá sorti.
U lugá é incantado
Tem genti di todo fado
Nadá no rio é o isporti.
 
 
Esti causo assustadô
Si arguém quisé cunhecê
Recumendo ao sinhô
ir a Xavantina vê.
E banhá n’água cristalina
Onde nada a tar minina
Junto cum os poraquê.(*)
 



 
(*) poraquê= peixe elétrico, no Rio das Mortes são cardumes e mais cardumes.
 
 
PS: Os fatos aqui narrados são pura ficção de cordel, exceção feita aos cardumes de peixe-elétrico
​

A presença bonita do poeta-escritor, JACÓ FILHO, Obrigada, amigo, sua participação ficou uma maravilha e veio enriquecer esta página.

29/12/2012 08:59 - Jacó Filho
 
Dessa vez levei um susto
E ainda tou mei pasmado...
Se pensar bem num é justo,
Viver cum o saco rasgado,
Mas imagino que é bruto,
O modo qui foi custurado...



Já que pode ter herdeiros,
Zégazim deve de tá feliz.

A num ser qui do arteiro,
Nasça, pondo pelo nariz,
Como se faz no galinheiro,
Ovo igual os de curduniz...


Cada cristão tem sua sina,
E o lugar é importante...
Quem nasce em Xavantina,
Não precisa de purgante,
Se comer, dessa menina,
Os ovos, que é laxante.


Pra todos que acreditam,
E por incredos também,
Os céus desatem as fitas,
Pro novo ano que vem...
Sejam felizes e dividam,
O pão com os que num tem...


Bom dia meus queridos amigos e mestres Hull de La Fuente e Airam RibeiroÉ sempre uma grande alegria apreciar e aprender convosco...
Obrigado por Dividir conosco o ouro do vosso arco-íris...

Feliz 2013 e toda eternidade....
 
​



Gente! minha mana vortô das férias de final de ano. Brigadim pela interação, mana quirida.



02/01/2013 14:33 - Milla Pereira


 
Ieu num mi assustei
cum u causu assustadô.
Mai muito feliz fiquei
E quaiz qui chorei, dotô.
Mi interneci co’a minina
das banda de Xavantina
a istória qui ocê contô.
 
Aqueli ovo qui saiu
Pelo nariz da minina.
Pur onde entrô, ninguém viu,
Essa istória mi azucrina.
Convocáru cientista,
Dotores, inté artista,
Porém ninguém discubriu!
 
Arguns disseru que era
Coisa do demo mardito.
Mardição da besta fera
Ô um feitiçu isquisito.
Uns openas aqui é má sorti
A peste do Rio das Morti
Das banda di Xavantina!
 
(Milla Pereira)
 
Maninha, retornando neste ano, pra lhe desejar muita sorte, amor, saúde e paz, em 2013. Beijos, Milla
 


Hull de La Fuente e AIRAM RIBEIRO
Enviado por Hull de La Fuente em 29/12/2012
Reeditado em 02/01/2013
Código do texto: T4058238
Classificação de conteúdo: seguro