Fazenda Santa Lavra - Mato Grosso Do Sul - ano 1998 


A COBRA DO CUMPADRE ERDO

Meus irmãos do Recanto
e amantes da arte bendita,
lhes conto nesta simples escrita
sobre a cobra do cumpadre
do bicho que fez alarde
na sua fazenda em Mato Grosso,
fez tendéu e alvoroço
baita cobra Sucuri
que pegou este guri
das pernas até o pescoço

Não coube nem no retrato
de tão comprida que era
vinte metros de espera
da cabeça até a cola
que quando pega se enrola
com uma força brutal
come gente e animal
não importando o tamanho
bicho feio e estranho
criado no pantanal.

Lhes conto, levei cagaço,
e quase virei presunto
me indo de braço junto
bem no meio do seu corpo,
escapei por muito pouco
quando fiz baita gritedo
senti tristeza e medo
quando vi a sua goela
já pálido e branquela
sentindo seu bafo azedo

Fechei meus zóios em silêncio
numa prece em oração:
“Me salve, caro irmão
que já me vou lá pro céu "
Quando ouvi grande tendeu,
me olhando, um monte de gente
e meu cumpadre de repente
lhe cravou bala de morte
por milagre ou por sorte
salvando este inocente.

Se não fosse meu cumpadre
nem sei por onde eu andava
e muito menos gargalhava
como está lá no retrato,
foi verídico este fato
não estou aqui pra mentir
simplesmente dirigir
o mapa da situação:
esta cobra tem um bocão
que vai quebrando até engolir

Vejam, no bucho da cobra,
que já tinha comido um boi
quase um gaúcho se foi
para ser sua sobremesa,
lhes conto dessa dureza
num final de triste drama
iria pro guinness da fama
pela cobra ter me engolido
pra não ser nunca esquecido
do meu pago Uruguaiana.

Depois de tudo acabado
meu cumpadre me contou
dessa cobra que ele criou
desde nova no viveiro
andava pelo terreiro
tranqüila calma e quieta
comia fruta pra dieta
e muita carne macia
se banhava em água fria
pra manter-se sempre alerta

Pode pará meu cumpadre,
com as delongas da tua cobra
não tenho tempo de sobra
vou saindo de mansinho
me largo no teu jatinho
e volto lá pra Guaíba:
contarei da tua amiga
na rádio e televisão
dessa simples criação
soltada da minha mente,
um baita abraço vivente
pois te quero como irmão.