O cumpadre e a Cobra

O cumpadre e a Cobra

==================ErdoBastos

Meu bom cumpadre Edegar

Poeta com talento de sobra

Não tem mais do que falar

Vem falar da minha cobra

Que tava quietinha guardada

No cercado que fiz pra ela

Mas se apaixonou a coitada

E fugiu sem mais aquela

Se veio do Pantanal

Seguindo o vento de arriba

E veio parar no quintal

Do meu cumpadre, em Guaíba

É que a cobra acostumou mal

Com o jeito dele tratar

Deu papinha de leite e mingau

E a cobra acostumou a gostar

E se apaixonou, o animal

Pelo meu cumpadre Edegar

Mas de uma maneira tal

Que andou até encontrar

Veio lá do Mato Grosso

Se arrastando sem parar

Pra se enrolar no pescoço

Do meu cumpadre Edegar

Não foi por falta de aviso

Que eu mesmo cansei de avisar

Não mexe com a minha cobra

Que ela pode se apaixonar

E agora, olha a mão de obra

Que este bichinho vai dar

Se enrola toda e se dobra

Olhando pro cumpadre Edegar

E não aceita manobra

Não quer mais pra casa voltar

Ela diz, mas pede segredo

Que não deseja me magoar

Mas não é mais a cobra do Erdo

Diz agora ela é do Edegar

Porque ele não teve medo

Quando viu a cobra entrar

E foi logo ajeitando os pelegos

Pra cobra se acomodar

Que o cumpadre é hospitaleiro

E o bichinho não ia deixar

Dormindo no frio do terreiro

Sem ter em quem se encostar

Que o inverno vem vindo ligeiro

Já começou a esfriar

Ele deu um sorriso matreiro

E mandou a cobra chegar

Pra pertinho do braseiro

E nos pelegos se acomodar

É o famoso jeitinho brasileiro

Que o cumpadre precisou dar

Mas, afinal, ele é solteiro

E ninguém tem que falar

É problema só dos dois

Se quiserem se casar

To curioso pra ver depois

A quem os filhos vão puxar