ODE AS MÃOS

ODE AS MÃOS

Mãos de ferro são mãos fortes

Alicates para os torques

Que ajustam, que apertam

Para rimar estes meus motes

Muitas mãos me vem aos potes

Isto vale como alerta

Sei que tens bom coração

(Se não fostes meu irmão)

É que és bem curioso

Sei que vais ao derradeiro

Dos meus versos (este é o primeiro)

Se não ler, és preguiçoso

Após lido e bem pesado

Refletido e abalizado

Faça deles o que quiseres

Servirá para acender um lume

De fiantã de vagalume

Ou outra coisa qualquer

Adoro, se tenho um tema

Transformar logo em poema

(pura gozação somente)

Mas é fácil, podes crer

Sabendo ler e escrever

É só tentar, experimente

Hoje, me destes a idéia

De escrever sobre a epopéia

Das mãos (tema este banal)

Não se prenda muito porém

Leia,como convém,

E aprende o final

Veja tu, meu caro irmão

Como simples palavra, “mão”

Eu posso até transformar

Minha história,até, creio

Com certa doze no meio

De moral, pra te informar

Existe mãos pegajosas

Outras, com calos, nodosas

E mais finas, delicadas

Mãos ossudas, mãos tortas

Mão boba, viva, não morta

E mão forte, debilitada

Tem mão que planta,corta e colhe

Que distribui, que recolhe

Mão fechada, mão aberta

Mão que bate, mão que apanha

Mas nessa enfiada tamanha

Somente uma coisa é certa

Mãos com seis dedos,e feia

Um dedo a mais de permeio

Não ajuda, só aborrece

E, por que esconder, se tente

Vem alguém,olha na gente

E o “alienígena” aparece

Pois, se em paz, vem este alguém

E lhe estende , como convém

A mão , nm gesto de amigo

Não fica bem, meu irmão

Esconder a própria mão

É bem dito, eu sempre digo

Mesmo que ao estender

Num ato, que ao meu ver

É “ etiqueta” e educação

Descubra este alguém de vez

Que tenho não cinco, mas seis

Dedos em minha mão.

Não é vergonha esconder

Se temos a mão , podes crer

Assim torta , ou aleijada

É mais feio recusar

Quem lhe estende a mão para dar

Fico triste pelo fato

De ver tanto espalhafato

Por tão pouco, eu percebi

Se ressentiste, n’outro dia

Quando apertar minha mão queria

E a minha eu recolhi

Não foi , posso jurar

Por medo de me infeccionar

Pois não és nenhum doente

Se não lhe estendi a mão

Acredite, meu irmão

Foi pra ver como me senti

Ficaste irado, raivoso

Quase louco, furioso

Se pudesses, me esfolava

Xingastes-me mais de uma hora

Depois que me fui embora

Mas, feito o mal, já estava

Na verdade, meu chegado,

Fiz tudo premeditado

Deixar-te com raiva de vez

Pra te lembrar como é bom

Tratar mal a seu irmão

Dar-te o troco do que fez

Mas , tudo vamos acertar

Um dia, podes marcar

Num ringue, ou na sinuca

Não se amole, não se irrite

Se tiver com vontade, grite

Ou podes fundir a cuca

Na verdade eu te digo

Aqui não corres perigo

Minha casa está aberta

Aos sobrinhos e cunhada

Com a porta escancarada

E podes ficar bem certo

Que na próxima ocasião

Em vez de te dar a mão

Vou mostrar meu atestado

Que sou sadio e belo

E, a ultima coisa que quero

É te ver preocupado

Com medo de adoecer

Cair de cama e morrer.

Morreria na flor da idade

Tão belo, gordo e sadio

Por causa dum cão vadio

Ter tanta infelicidade

Com atestado e com luva,

Só assim não há recusa

De nossas mãos apertar

Se juras, eu tanbem juro

Que não passaremos apuro

Depois disso, as mãos lavar

Juro, sem ser patético

Que não fui, nem sou aidético

Só tenho a mão calejada

Não é de contar dinheiro

Nem de ir tanto ao banheiro

Nem tampouco de enxada

Mas, doença ruim não tenho

Me trato como convenho

Sou limpo, belo, asseado

Mas tanbem, tenho cisma

Não topo mão de veado

Mão boa de se pegar

Alisar,cheirar, beijar

É somente de gente amada

De preferência , de mulher

E digo pra quem quiser

Nela, até algemada

Mas, voltando ao nosso tema

Fugir da linha não posso

O assunto aqui é a mão

Esse apêndice inprescindivel

Nosso membro mais incrível

Desse assunto, a razão

Para seu conhecimento

Reflita, só um momento

E veja se tenho razão

Pra tudo que na vida se faz

Faça, se for capaz

Sem ter ao menos uma mão!

Piano, não se toca não

(Só tendo quem sustentar)

No bolso, a mão não se mete

Nem se abre canivete

Veja você , meu caro irmão

Vou contar em “prima” mão

Uma triste, triste história

É verdade verdadeira

Não se trata de besteira

Uma fatalidade ingloriosa

Sucedeu la no nordeste

Onde cabra bom da peste

Até em água da no pe

O herói desta enfiada

Era o Cosme da lambada

Natural de piancó

Pela Zica do tinguado

Gamou muito, e apaixonado

Graxou os eixo e casou

Filhos, vieram em penca

Talqualmente a verde avenca

Só no décimo é que parou.

Este ultimo, o derradeiro

Não nasceu assim inteiro

Veio só desempatar

Acabou com a perfeição

Querente a todos irmãos

Mas não deixou de vingar

Nele cresceu quase tudo

Não foi cego, não foi mudo

Cantarolava mais que os irmãos

Cabeça chatinha, bonito

Ganhava comida no grito

Era quase a perfeição

E por ser cria caçula

Manhoso até mais que mula

Abusava com desdém

Cresceu, quase inteirinho

De apelido “bonitinho”

Mas, não valia um vintém

Se foi castigo, não sei

Mas ele nasceu sem a mão

A dieita, com certeza

Apesar desse defeito

Sendo todo o resto direito

Não perdeu toda a riqueza

Com os déz já bem paridos

Canivete recolhido

Cosme e Zira do Taguado

Socegaram a borboleta

Apagaram a espoleta

Para gozarem o bambuado

E os filhos todos homens

Bem cedo na roça correu

Menos ele, o bonitinho

Pois tendo sua mão aleijada

Não lidava com enxada

E quieto ficou...tadinho

Muito cedo iam roçar

Nem pensavam em estudar

Também era o tempo escasso

Davam duro todo o dia

E bonitinho só fazia

Fugir do sol, o mormaço

Porem acalentava um sonho

Sonho tolo, até bobinho

E de certo pra ele não

Pois pra ser doutor letrado

Ser na vida situado

So tendo as duas mãos

Mas o tempo correu lasso

Tal qual água no regato

E Gaudenio, o bonitinho

Se auto alfabetizava

Pra ser mais tarde, doutô

Até levantava cedinho

Bem cedo tava de pé

Preparando o café

Pros velhinhos e pros irmão

Com a esquerda fazia tudo

Pois já disse não me iludo

Nasceu sem uma das mão

E bem logo a direita

Que é a mão mais perfeita

Pra quem canhoto não é

Mas, se Deus tirou a mão

Não tirou a intenção,

E até aumentou a fé

De ser homem diplomado

Com diploma pendurado

Usar terno com colete

Ter uns trocados no banco

Ser bem rico, mas nem tanto

Usar anel com sinete

Por arte que só Deus sabe

Pois sorte aqui não cabe

Uma tia, veio um dia

E chegou em boa hora

Pois era rica senhora

Nos dentes, ouro luzia

Veio mais pra espairecer

Ver os parentes, e morrer

Pois na idade era entrada

Natural da capital

Onde o ar era seu mal

Mas logo, ficou vexada

Quando viu o ambiente

Pior lugar pra doente

Mas o ar era bom

Tia Sara ( o nome dela)

Ficou boa da seqüela

Uma mancha no pulmão

Na roça passou dez meses

E em boa parte das vezes

Foi quem cuidou e proveu

De comida, uma mesa farta

Engordou tal qual lagarta

E até hoje não morreu

É porisso que a gloria

A moral de nossa historia

Deve a ela seu final

Ajudou ao bonitinho

Gaudêncio, o seu sobrinho

A seguir pra capital

Patronou os seus estudos

E proveu em quase tudo

Para o sonho realizar

Deu o rumo e direção

Foi, na verdade outra mão

Que estava a lhe faltar

E o tempo nunca para

Para deixar a coisa clara

Vislumbro os finalmente

Gaudêncio, já moço feito

Nem ligava pro defeito

De doutor deficiente

Já tinha até empregado

Pra manter abotoado

Os botões de sua roupa

Ficou rico com herança

mas botava na poupança

muitas sobras, não tão poucas

quase não ia pra roça

onde na pura troça

seus irmãos nele rolavam

minha família de dez

fossem todos bacharéis

pra plantar, quantos restavam?

Os velhos que visitava

Com os olhos baços fitavam

Aquele belo rapaz

Maneta, sem uma mão

Diferente dos irmãos

Vistoso que nem cartaz

Um belo dia ..............

Pra outro astral embarcaram

Foi pro brejo a velha roça

Os irmãos, sem o seu guia

Se viram no outro dia

Só com sua velha troça

Ficaram desnorteados

Venderam o pouco gado

Foram em busca do irmão

Logo, embarcaram num trem

E foram como convém

movidos pela união

Que na grande capital

O dono do hospital

Gaudêncio era parceiro

Dava ajuda e abastança

Pois era bom de finança

E não negaria decerto

Apoio,pois era irmão

Mesmo tendo só uma mão

A esquerda,não esqueça

“não plantamos mais batatas

Tesconjuro, vida idiota

Não é vida que mereça

Foram todos bem aceitos

Do Gaudêncio acataram o s feito

E chegaram a conclusão

Que justo o aleijado

É que tava bem arrumado

E vingou só com uma mão

Sendo Gaudêncio educado

Se sentiu recompensado

A seus irmãos ajudar

Lembrou-se bem do passado

Que, sendo ele o aleijado

Não era pra plantar

Autoria de LUIZ GEORGES PIOVESAN “In memmórian”

Julio Piovesan

06/04/2013

juliopiovesan e Luiz Georges Piovesan " In memmórian"
Enviado por juliopiovesan em 06/04/2013
Código do texto: T4226782
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