Lambe mais que entra.

Certo dia eu escutei

Dentro da casa de Rita

Uma voz rouca e fanhosa

Outra fina e bem bonita

Meu pescoço ficou duro

O que eu ouvi no muro

Sei que ninguém acredita

Rita moça bem criada

Que a mãe criou com zelo

Nunca namorou na vida

Nem com prece nem apelo

Aprendeu fazer tricô

E então se encantou

Por agulha e por novelo

Só pra você meu leitor

Eu vou contar um fuxico

Ela tinha uma mania

Ao dormir chupava bico

Eu me sentia sem jeito

Pois aquele seu defeito

Achava muito esquisito

Vamos deixar os defeitos

De Rita nesse momento

Para falar do pai dela

Que se chamava seu Bento

E da sua concubina

Dona Maria Rufina

Que honrava o casamento

Sei que ninguém desfazia

O nó que seu bento dava

Se andava na rodagem

E alguém ele avistava

Num segundo ele sumia

E a pessoa só via

Quando se desencantava

Quando na semana santa

Num bicho se transformava

Se deitando no lugar

Que o jumento espojava

Deixava então de ser homem

E virava um lobisomem

Que quem o via assustava

mas tambem quero falar

Da mãe de Rita, Rufina.

Que adorava seu Bento

E também sua menina

Uma velha curandeira

Que também boa parteira

Uma velha nordestina

Naquele tempo na roça

Não havia cafetina

Na roça não tinha zona

Nem estrupo de menina

Só em Deus nois tinha crença

E na hora da doença

Só tinha dona Rufina

Se a mulher dava a dor

De parir na madrugada

O marido ia correndo

La na casa da coitada

Que já estava sabendo

Nem dormiu e ficou lendo

A santa bíblia sagrada

E não cobrava um centavo

Por esse gesto de amor

A mãe tinha seu filhinho

Libertava-se da dor

Então aquela parteira

Medicava a parideira

Muito melhor que doutor

Mas voltarei a falar

Na escuta que ouvi

Ora Ritinha chorava

Depois começava ri

E então a tal voz rouca

Dizia Rita abre a boca?

Lambe um pouquinho aqui

Rita dizia a pontinha

Ta muito grossa de mais

Lambe de novo menina

E bote ela por detrás

Se entrar no buraquinho

Segure forte no linho

Vai tentando enfiar mais

Dizia Rita não trema

Senão você não da conta

Eu vou lamber a pontinha

E depois você aponta

O furinho é apertado

Mas se tiveres cuidado

Hoje a coisa fica pronta

Eu ali naquele escuro

Suava frio e tremia

Ouvindo aquela conversa

Apelei pra covardia

E meu sufoco aumentou

Quando Ritinha falou

Já entrou com alegria

Eu pensei preciso ver

O que é pra confirmar

E fui subindo no muro

Bem lento bem devagar

Ai que fui entender

Mas se contar pra você

Tu não vais acreditar

Era Rita costurando

Tentando enfiar a linha

Se a linha não entrava

Dava uma lambidinha

Para a ponta ficar fina

Tava ela e sua prima

Que se chamava Zefinha

Eu fiquei apavorado

Meu pescoço amoleceu

Desci depressa do muro

Ri do pensamento meu

E comecei entender

Se eu te julgar sem ver

Como Deus vai julgar eu?

Mas o julgamento com justiça se fará, e a seguirão os retos de coração. (Salmos 93, 15

joãocorin
Enviado por joãocorin em 07/04/2013
Reeditado em 07/04/2013
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