AO SOM DA VIOLA




AO SOM DA VIOLA
Silva Filho


Sou trovador do sertão
Rimando sol com poeira
E de qualquer ribanceira
Soletrando algum refrão.
Sem escolher estação
Sem temer remandiola
Meu estro nunca me enrola
Não sofre tempo adverso
PORQUE O SOM DO MEU VERSO
É O MESMO SOM DA VIOLA.


Meu verso canta tristeza
E também a alegria
Vem com força d’alforria
Pra sentimento em represa.
Verso que mostra proeza
Verve que não se estiola
Quando algum tema embola
Logo depois fica expresso
PORQUE O SOM DO MEU VERSO
É O MESMO SOM DA VIOLA.


Aprendi com a passarada
Um gorjeio d’improviso
Outra coisa eu não diviso
Além da vida rimada;
Sou peão da madrugada
Que com pouco se consola
Não que seja gabarola
Mas na rima vivo imerso
PORQUE O SOM DO MEU VERSO
É O MESMO SOM DA VIOLA.


Passeando pelo agreste
Em cenários de miragem
A rima seguiu viagem
Com algum Cabra da Peste;
Ali não há quem conteste
Este som qual radiola
Rima que vence a marola
Não deixa o mote disperso
PORQUE O SOM DO MEU VERSO
É O MESMO SOM DA VIOLA.


No sertão o verso é tudo
Pra dizer o que se sente
Qualquer tema faz Repente
Que faz doutor ficar mudo;
É o trovador sem estudo
Pondo a rima na bitola
Quando a verve deita e rola
Não me deixa ser egresso
PORQUE O SOM DO MEU VERSO
É O MESMO SOM DA VIOLA.