Cruz Credo

Minha avó contava histórias

Para as crianças entreter

Agora é minha hora

Vou contar para você

Existia uma cidade

Onde todos se conheciam

Conviviam em amizade

De verdade se queriam

Era uma comunidade

De vizinhos, de amigos

De famílias, de compadres

Uns aos outros davam abrigo

Viviam em harmonia

Trabalhavam com prazer

Pra completar a alegria

Investiam no lazer

Mas chegaram uns forasteiros

Com mala e cuia na bagagem

Mais rápido do que ligeiro

Fizeram sua estalagem

Os nativos os acolheram

De bom grado e coração

Guarida lhe ofereceram

Sem nenhuma objeção

Não sabia, no entanto

O que estava pra acontecer

Tamanho foi o espanto

Contando, não dá pra crer

Um filhote de cruz credo

Juntou-se a uma songamonga

O que antes era um segredo

Depois, não foi mais mironga

Cruz credo era cavalheiro

Gente fina, educado

Mas, chegando ao poleiro

Tornou-se o cão encaibrado.

Songamonga encalhada

Fingindo-se de boa bisca

Com cara de retardada

Fisgou cruz credo na isca

Porém, cruz credo lá no fundo

Se deixou engabelar

Pois seu interesse profundo

Era o poder conquistar

Era a gula e a ganância

Um par de coisas ruim

A preguiça e a arrogância

Um desmantelo sem fim

Espantaram a vizinhança

Sem receio de magoar

E romperam com as alianças

Dos que decidiram ficar

E nos projetos bonitos

Que os aborígines faziam

Eles ficavam bem na fita

Nem obrigado diziam

Quando a coisa tava feia

Ficavam logo de alerta

Se no jogo tinha areia

Tiravam os deles da reta

A preguiça e a ruindade

A falta de competência

A soberba e a maldade

Atestaram a decadência.

Logo a pacata cidade

Começou a decair

Mas, nas suas vaidades

Não estavam nem aí

E os nobres moradores

Viviam a se lamentar

Dos desmandos e dos horrores

Da família Mangangá.

Iranil J Azevedo
Enviado por Iranil J Azevedo em 13/06/2013
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