QUATRO PEREGRINOS AO ABRIGO DA CHUVA

Era um dia de chuva, quando num rancho eu estava

Na beira de uma estrada, pela qual eu caminhava

Quando ali também entrou, três pessoas que passava.

O rancho era pequeno, mas não havia goteira

Era coberto de capim, que descia pela beira

A água que ali caía, se escorria pela eira!

As três pessoas de pronto, logo ali se abrigaram

Eu estava num banquinho, quando vi que se sentaram

Num outro improvisado, que no rancho encontram

O fato deles entrarem, os três naquele ranchinho

Não significava, que caminhavam juntinhos

Cada um vinha de um lugar, porém no mesmo caminho

Havia um moço simpático, e duas moças donzelas

Uma era muito bonita, a outra feia e singela

A chuva fez o encontro, de nós quatro na viela!

Para quebrar o silêncio, eu puxei uma conversa

Perguntando ao rapaz, que tinha o olhar de festa

-De onde é que vocês vem, pela estrada deserta?

-Eu moro lá em Saber, me disse o moço disposto

-Eu resido lá em Dúvida, disse a singela de rosto

Moro em Convicção, disse a bonita, com gosto.

-Engraçado! Eu nunca soube, que havia tais cidades -

Falei com admiração, ouvindo aquelas verdades

-Por que lhes deram tais nomes? Perguntei mais á vontade.

Prontamente o rapaz, foi o que falou primeiro

-La em Saber onde eu vivo, é que supre o mundo inteiro

Dos vários conhecimentos, que dá aos homens o roteiro.

La onde faço morada, disse a singela menina

É que fornece as dúvidas, que aos homens desanima

De acreditarem em Deus, mas querem ter boa sina!

La em Convicção, disse a moça bonita

Temos muitas pedreiras, pois a cidade é rica

E fornece para o mundo, matéria que edifica.

-E você, ó meu rapaz – perguntou-me o Saber

Se encontra nesse ranchinho, como foi acontecer?

Podes falar para nós, onde faz o seu viver?

-Ah! Vivo em Lugar Nenhum, um tanto longe porém,

Faz meses que estou andando, sozinho e sem ninguém

Estou procurando casa, para morar com alguém!

Se quiser morar comigo – disse á Dúvida sem demora

Daqui mesmo voltarei, pra minha terra agora

Lá terás casa e comida, dinheiro, saúde e glória!

O saber entrou no assunto, e assim ele falou

Se quiser ir lá pra casa, um abrigo já encontrou

Moro ainda com meus pais, mas foi ele que mandou

Acho que melhor seria, ir pra Convicção

Disse a moça bonita, em meu ombro pondo a mão

Minha casa é muito linda, terei a ti como um irmão!

Minha escolha recaiu, sobre a moça bonita

Que além de sua beleza, com olhar que edifica

E sua amabilidade, era coisa muito rica!

Mas um fato foi se dar, quando a chuva fez aragem

Ao sairmos na estrada, vimos uma bela imagem

Um arco-íris gigante, com as cores na bagagem

Dele saiu um anjo, vindo em nossa direção

Ao se aproximar de nós, fez a sua saudação

E falou para o Saber, que queria uma instrução:

-Por que a Dúvida está, acompanhando o Saber?

Se é ela que atrapalha, o homem em tudo crer?

Se andarem os dois juntos, algo ruim pode acorrer!

Ainda bem que a Convicção, estava ali presente!

Tirando a força da Dúvida, disse o anjo displicente

Caso contrário Lugar Nenhum, seguiria para a frente!

Um ditado ali surgiu, do anjo naquela hora

Aonde o Saber chega, a Dúvida já vai embora

Cada um para sua cidade, segue logo sem demora!

Com a saída de Dúvida, fica a Convicção

Como uma a pedra dura, que edifica a construção

Quem a ela se abraçar, tem saber e educação!

Das reais forças da mente, que leva o homem a ganhar

O saber e a convicção, dão a ele o bem estar

Que levou Lugar Nenhum, para com eles morar morar!

Mas a Dúvida continua, a procura de seu bem

E sempre está se metendo, aonde não lhe convém

A cada vitória dela, é atraso para alguém!

O SABER é um navio, a CONVICÇÃO uma rocha,

A DÚVIDA um nevoeiro, LUGAR NENHUM uma tocha!

Quem se perde pelo mar, com a dúvida se acocha!

ISOLINO C. O. LUZIRMIL

republicado de minhas paginas antigas