Cachaça destrambelhada


I
Cachaça destrambelhada
Tomamos eu e Alfredo
Começou quarta bem cedo
Num dia de vaquejada
Domingo de madrugada
Acordei-me no hospital
Devo ter passado mal
Pra ser hospitalizado
Olhei pra tudo que é lado
De Alfredo nem sinal

II
Quando tentei levantar
A cabeça latejou
O mundo rodopiou
Vi que ia desmaiar
Eu voltei a me deitar
E chamei um enfermeiro
Perguntei por meu parceiro
Ele de nada sabia
Mas disse que tentaria
Descobrir seu paradeiro

III
Um doutor muito educado
Foi quem me deu a notícia
Que um cabo da polícia
Encontrou-me desmaiado
Num bordel mal afamado
Aonde só vai vigarista
Ladrão e contrabandista
Na sexta de manhã cedo
Mas do meu amigo Alfredo
Não tinha nenhuma pista

IV
Disse que me internaram
Pelo SUS como indigente
Sem encontrarem um parente
Não me identificaram
Pois eles me encontraram
Desmaiado num aposento
Sem roupa e sem documento
Desidratado de fome
Não sabiam nem meu nome
Até aquele momento

V
Eu fiquei encabulado
Pois não lembrava de nada
Apenas da vaquejada
Com Alfredo do meu lado
Sei que bebi um bocado
Lá no bar do Gargamel
Cana com sarapatel
Cerveja com guaiamum
Uísque, vodca e rum
Vinho tinto e coquetel

VI
De nada mais me lembrava
Nem quando saí do bar
Nem de como fui parar
No lugar onde me achava
Nem como a roupa que usava
Tinha desaparecido
Minha carteira sumido
Sem que eu sentisse falta
Assim que me deram alta
Saí de lá deprimido

VII
Eu deixei o hospital
Com uma roupa emprestada
Quando cheguei à calçada
Tinha um policial
Que me disse em tom formal
Para eu ir no outro dia
Até a delegacia
Para esclarecimento
Sobre o roubo de um jumento
Que a mim se atribuía

VIII
Quando em casa fui chegando
Vi um caminhão parado
Desses que transportam gado
E já fui logo estranhando
Tinha um cara me esperando
Há uns dois dias ou mais
Pra deixar uns animais
Que eu tinha arrematado
Doze cabeças de gado
Por quarenta mil reais

IX
Eu disse ao caminhoneiro
O senhor tá enganado
Eu não posso ter comprado
Pois não tenho esse dinheiro
Acho que o leiloeiro
Enganou-se de endereço
Pois quem pagou esse preço
Deve ser algum barão
E aqui na região
Se existe eu não conheço

X
Você tava de pileque?
Perguntou-me o sujeito
O que tá feito tá feito
Não pense que sou moleque
O senhor pagou com cheque
E assinou um contrato
Disse até que foi barato
Pelo preço arrematado
O negócio foi fechado
Por esse valor exato

XI

Quando eu ia argumentar
Ainda meio sem jeito
Pedi licença ao sujeito
Pra ir até o meu lar
Pois vi uma moça entrar
Sem minha autorização
Com uma mala na mão
Usando cópia da chave
O que achei muito grave
E já previ confusão
 
XII
Entrei em casa na hora
Em que ela ia sentando
E disse – Vá levantando
Pois não conheço a senhora
Ponha-se daqui pra fora
E ela disse – Um momento
Você me deu um jumento
E esse anel no meu dedo
No dia em que Padre Alfredo
Fez o nosso casamento
 
XIII
Eu quase tive um ataque
Ao saber dessa façanha
Casado com uma estranha
Por um padre de araque
Devo ter fumado craque (crack)
Talvez maconha vencida
Só restava uma saída
Pra meu ato inconsequente
Tinha que fugir urgente
Daquela desconhecida

XIV
Eu pensei por um momento
Que tudo aquilo era um sonho
Um pesadelo medonho
Se eu forjei um casamento
Se roubei o tal jumento
Comprei garrote em leilão
Se aprontei confusão
Num bordel do submundo
E passei cheque sem fundo
Podia ir pra prisão

XV
Que encrenca desgraçada
Em que eu fui me meter
Nunca mais eu vou beber
Nem vou mais em  vaquejada
E vou sumir na estrada
Pra escapar da polícia
Se não usar de malícia
Vou entrar em cana cedo
Se alguém encontrar Alfredo
Por favor, dê-lhe a notícia.
Edmilton Torres
Enviado por Edmilton Torres em 31/08/2013
Reeditado em 02/09/2013
Código do texto: T4461046
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