Vontade ou desejo?
É firme a minha disposição
Morena, eu tenho vontade
Amar-te, a bem da verdade
Na mente a minha intenção
Diante do fato que aparece
Eu posso, então, desejá-la
Quero, morena, aceitá-la
De amor o coração carece
Afirma o meu pensamento
Mas, teu cuidado me nega
Espero, um dia, o momento
O amor é planta que se rega
A escolha do mal me reprova
A escolha do bem é um louvor
A vontade é decisão do amor
E a moral do cordel é a prova
Descartes me reprova se erro
E Santo Agostinho os pecados
Vontade e desejo são casados
A rima do cordel não emperro
Para Descartes e Agostinho
Decisão é responsabilidade
Vontade é, assim, liberdade
No cordel eu traço caminho
Desejo é a direção a um fim
Está fora fonte da satisfação
Desejo é uma representação
O desejo, morena, é teu sim
Desejo também é carência
E o desejo é meu aperitivo
Ou seria elemento afetivo
Cordel é vontade, cadência
Mas, se não carecesse de nada
Eu não desejaria coisa alguma
Meu desejo pro teu se apruma
É teu ninho, morena, pousada
Desejo é para o ser finito
Diz o filósofo grego Platão
Morena, amor é perfeição
Do poeta imperfeito, repito
Desejo é um sentimento
Que faz parte do sujeito
Da metafísica elemento
Atitude mental o preceito
O desejo é algo subjetivo
Cuidado com autoengano
Pra me conhecer fico vivo
Amar à vontade é o plano
Morena, teu corpo é desejo
Vontade que dá, noite e dia
Da boca, morena, um beijo
Teu corpo, morena, alegria
Felicidade é minha riqueza
Valorizo aquilo que tenho
Viver é brincar de desenho
Epicuro falou com certeza
A felicidade está em mim
E minha vontade também
Desejo de voar, passarim
Cordel à vontade, amém!