TIRADENTES

A história da Independência

poderia ser assim...

Estamos em Vila Rica,

anos oitenta no fim,

o século é dezoito

e para um grupo afoito

haverá batizado sim.

Na noite cheia de sombras

“amanhã é o batizado”

é a senha que corre célere

já com seu dia marcado

por alguns conspiradores

cujos sofrimentos , dores,

tornam qualquer , revoltado .

Assinara um decreto:

o local governador

ordenando a derrama

espalhando o terror

com rigorosa cobrança

de quem já sem esperança

se entregava ao medo e à dor.

E Vila Rica adormece

com a rebelião no ar,

sonhando com Independência

que cansavam de esperar,

numa luta sempre em vão

soprando na escuridão

mensagem que vai chegar.

E tal mensagem chegou

com vivas à liberdade

Palácio da Cachoeira

local de fraternidade...

Dragões de Minas à frente

de um povo mui sorridente

festejando na cidade.

Tomaram Real Fazenda

em plena revolução,

governo de Barbacena

o primeiro na prisão

e emissários, desvario

Bahia, São Paulo e Rio

dando as novas à Nação.

Minas agora está livre

tem governo Nacional

enfim, Independência,

guerra contra Portugal.

A liberdade tardia

brotava naquele dia

provinda de um ideal.

Mas a verdadeira história

se fez muito diferente...

Governador não foi preso

o povo sempre indiferente

não se levantou jamais.

Tiradentes nunca mais

se viu livre novamente.

O Mártir preso no Rio

sofreu uma traição

delatado em Vila Rica

por um coronel vilão,

Joaquim Silvério dos Reis

por causa de alguns mil réis

entregou cirurgião.

Joaquim José da Silva,

parte de mãe , Xavier,

de sete irmãos , era o quarto

filho como outro qualquer

ficou órfão aos onze anos

foi esquecer desenganos

com o padrinho e a mulher.

Ouviu histórias de ouro

na Vila de São José

conheceu todas as lutas

sonhou com Europa até.

Viu fortunas se fazerem

minas de ouro empobrecerem

mas no país tinha fé.

Desiludido tropeiro

e minerador sem sorte,

resolveu ser um alferes

alto, magro, vesgo e forte.

Descendente português

bom conversador se fez

tendo em coragem suporte.

Da Capital da Colônia

a bela Rio de Janeiro,

voltou para Vila Rica

comandante patrulheiro

de um caminho de diamantes

onde nunca viu como antes

ser roubado o brasileiro.

Vila ...Rica ? O ouro preto ?

Um Joaquim ... Mais um José ...

Capitania de Minas

Tira ouro...Tira fé.

Barbaria, Barbacena

Lusa Coroa sem pena,

sobra de ouro pouca é .

Mas o tempo foi passando

nenhuma promoção vinha

por ser ele brasileiro

que bajulação não tinha.

Levantou então a voz

ante uma opressão feroz

que dominação continha.

Tira esperança, futuro

tempo é duro, sobra é pouca

tudo vai para Lisboa

a Rainha é uma louca

opressão , derrama, lágrimas

rompem-se os diafragmas

de gritar a voz é rouca.

E na Vila Rica em ouro

Igrejas e procissões,

sobradões de muito luxo

e mais manifestações.

Surgiram Cartas Chilenas

escritas a duas penas

cantando as situações.

Qual n’outras partes do mundo,

luta contra tirania

viva, movia as nações.

O homem , ser livre, devia,

poder pensar livremente

e matar rapidamente

o medo que emudecia.

E em vista a Declaração

de que homens nascem iguais

com inalienáveis direitos,

tornaram-se então normais,

busca da felicidade

da vida e da liberdade

de um novo mundo , ideais.

Maciel e Tiradentes

promovem reunião,

na Casa de Paula Freire,

em plena conspiração.

Muitos são os convidados

poetas e até prelados

em prol da libertação.

Proclamação da República,

Nova Constituição,

Sede em São João Del Rei

o final da escravidão,

com uma Universidade

em Vila Rica , a cidade,

como uma compensação.

Mas como aqui foi contado,

alguém de “mau coração “

fez divulgar surdamente

aquela revolução.

Foi a derrama suspensa

com a surpresa não se pensa,

surte fruto a delação.

Esmagada rebelião,

sem um tiro disparado,

começaram as prisões

em um grupo amedrontado.

Com o alferes ausente,

cada membro inconfidente

entrega-se apavorado.

Tiradentes enganado,

duplamente, por Silvério

parte do Rio p’rá São Paulo

envolto ainda em mistério.

Vencido pela tortura

Padre Inácio não segura

o seu segredo mais sério.

Relata onde está o alferes:

Na Rua dos Latoeiros

tramando planos de fuga.

E o herói levam armeiros

que com bacamarte na mão

uma última reação

tenta em gestos derradeiros.

Pouco a pouco, inconfidentes

sob agressão se renderam.

Primeiro foi Alvarenga,

e os demais o sucederam.

Só Gonzaga resistiu

pois contra, prova não viu,

e os fatos só o absolveram.

Tira o fado... Tira o medo

imprudência dos mazombos

caça à Maciel , Rolim,

devassa, estrondos e rombos.

A poesia naufraga

Peixoto, Manuel , Gonzaga

a causa se faz escombros.

Em três interrogatórios,

alferes tudo negou

mas no quarto , em janeiro,

resolveu e confessou

toda a culpa ele assumiu

ser chefe único , mentiu

e aos seus amigos salvou.

Dez vidas ele daria

se assim ele as tivesse

para salvar seus amigos.

E como assim Deus quisesse

uma única ele a deu

de um corpo que se abateu.

Ato que nos enrubesce !...

Cruel dar a vida ... A única,

patíbulo sem gemido

feito em quartos , credo ora,

Cristo em sedição punido

único de trinta e quatro.

Pedro Américo no esquadro

o retrata embevecido.

Tiradentes está morto,

bater dos tambores cresce,

um ser balança no ar,

mas causa não adormece.

Do Largo da Lampadosa

a idéia maravilhosa

até hoje nos aquece.

Os pensamentos rebeldes,

gestos desobedientes,

desejos de liberdade,

são sempre ingredientes,

por homens livres , buscados

nas sombras dos enforcados

como o foi “O Tiradentes “.

ANTÒNIO CARLOS TÓRTORO

Cordel premiado em concurso nacional.

Tórtoro
Enviado por Tórtoro em 21/04/2007
Código do texto: T458548