Sol e Chicão - Uma história de Amor

Uma história eu vou contar

De tristeza e de alegria

Ela fala de um matuto

Que veio prá cidade um dia

Pela escrita do destino

Fugiu de sua agonia.

Até dezessete ano

No roçado ele viveu

Plantar macacheira e cana

Com seus pais ele aprendeu

Mas o destino, que ingrato

Tirou tudo o que era seu

O pai do jovem morreu

Picado por cascavel

A mãe chorou de tristeza

Queria morar no céu

Sem comer, adoeceu

Foi logo pró beleleu.

O menino já rapaz

Ficou doido de aflição

Chorou um dia , uma noite

Tomou uma decisão

Dar um rumo em sua vida

Buscar uma solução.

Levantou de manhã cedo

No cartório foi buscar

Sua certidão de idade

Para o RG tirar

Ia prá cidade grande

Estudar e trabalhar.

Desculpe caros leitores

Se eu não apresentei

O garoto dessa história

Que ainda a pouco falei

Quem me narrou foi um padre

Que um dia visitei.

Manuel Francisco da Silva

De codinome Chicão

Veio viver na cidade

Ver a civilização

Cursar o fundamental

Buscar uma profissão.

Foi viver em Alagoas

De Maceió capital

Ao chegar matriculou-se

Na escola estadual

Foi morar numa pensão

Pertinho da catedral.

Nessa pensão de estudantes.

Só tinha rapaz direito

Vindos do interior

De família de respeito

Com uma boa educação

E sem nenhum preconceito.

Há um pequeno detalhe

Que esqueci de contar

O garoto era bonito

Com olhos da cor do mar

Cabelos da cor de mel

Pele negra de brilhar.

A cor da pele não importa

Quando se quer ter amigos

Que o Chicão cativava

Com o seu belo sorriso

Na pensão era querido

E por todos conhecido.

Num quarto com seis pessoas

Cama de primeiro andar

Chicão jurou ser feliz

Ia se adaptar

Conseguir um bom emprego

Estudar e se formar.

No seu primeiro domingo

Na praia foi passear

Sentir a areia nos pés

E ver o verde do mar

Provar da água salgada

Para depois mergulhar.

Televisão conhecia

Por ter ouvido falar

Nunca viu um telefone

Nem tão pouco celular

-Essas coisas modernosas

É pro matuto endoidá.

Chicão conhecia a luz

Do sol e do candeeiro

Rádio? Não viu nem de pilha

Mas tinha porco, chiqueiro,

fogão de lenha, galinha,

vaca e cabra no terreiro.

Chuveiro veio conhecer

Quando chegou na pensão

Tomava banho de rio

ou na tina de latão

Fazia cocô no mato

Bem perto do ribeirão.

Passeando com colegas

Do seu quarto de pensão

Conheceu o Jaraguá

O Pontal ,e o mercadão

E ficou interessado

Em estudar computação.

Chicão também resolveu

Entrar numa academia

Seu corpo duro e sarado

Mais bonito ficaria

Iria fazer sucesso

As jovens conquistaria.

Depois de um mês de aulas

Chicão se desenvolveu

Com vontade e inteligência

Rapidamente aprendeu

já usava a internet

Sua cultura cresceu.

Na sala do bate papo

Chicão resolveu entrar

Prá conhecer gente nova

Um novo amigo encontrar

Foi ai que o seu Sol,

de vez, voltou a brilhar.

Quando digitou seu nome

E no bate papo entrou

Surgiu logo uma garota

E logo se interessou

Era a Sol Imaculada

Baiana do interior.

No primeiro converseiro

Chicão se apaixonou

Toda noite ele corria

Prá falar com sua flor

Prá saber como era ela

E se com ele sonhou.

Mas a fila era tão grande

Na sala do provedor

Que Chicão não conseguia

Contactar seu amor

Então batia tristeza

No coração sofredor.

Chicão tinha algum dinheiro

Das terrinhas que herdou

Entrou numa grande loja

Comprou um computador

Fez contrato com a internet

Prá viver seu grande amor.

chicaofranciscodasilva

mais arroba e ponto com

Era a felicidade

Com poesia e bom som

Era o seu primeiro amor

Vivido em alto e bom tom.

solmariaimaculada

arroba ponto yahoo

Era o seu porto seguro

A bússula rumo ao sul

Seu presente, seu futuro,

seu oásis, céu azul.

E o tempo foi passando

Chicão com garra estudou

Num banco, sub gerente

E na faculdade entrou

E com sua estrela guia

De casamento falou.

Nas suas horas de folga

Trabalhava de modelo

Deixando fotografar

De rosto e de corpo inteiro

Destroçando corações

Nos out-door e letreiros.

Da Sol ele só conhecia

Seus poema bem escritos

Nem uma foto mandava

E ele achava esquisito

Mas o amor era mais forte

Não ficava aborrecido.

Já com vinte e nove anos

E onze anos depois

Que o namoro começou

Sonhava com a vida a dois

Chicão as férias tirou

Não quis deixar prá depois.

Com a passagem de avião

Comprada até Salvador

Lá alugaria um carro

Prá encontrar com seu amor

No litoral da Bahia

No Rancho Namorador.

Não avisou da visita

Pois surpresa quis fazer

Levou um par de alianças

Para a moça conhecer

Pedir enfim, sua mão

Casar, pros filhos nascer.

Quando chegou a cidade

Numa tarde de verão

falou o nome do rancho

Pediu uma informação

- Eu vou por aquelas bandas

Eu lhe levo cidadão.

Conversando com o senhor

Que tão gentil lhe atendeu

Falou sobre a jovem Sol

Como o seu amor nasceu

Sobre os seus anos de espera

E como lhe conheceu.

O homem escutou tudo

E foi mudando de cor

Teve pena do Chicão

Tão jovem, tão sonhador

Que esperava encontrar

Juventude em seu amor.

- Conheço a Sol, meu amigo

É uma santa pessoa

Pianista de mão cheia

E uma grande escritora

Na cidade é muito amada

Já foi até professora.

Depois da morte dos pais

Foi prefeita da cidade

Abriu logo um hospital

Prá toda comunidade

Construiu novas escolas

Supriu as necessidades.

Sem pensar no sofrimento

Para o povo trabalhou

Meu filho foi seu aluno

E a pouco se formou

Com água, luz, telefone

A cidade prosperou.

- Mas espere meu amigo

De outra Sol estou falando

O meu amor da internet

Só tem vinte e quatro anos

Essa Sol que você fala

Está fora dos meus planos.

- Amigo, prá ser exato.

Ela fez quarenta e oito

Caiu numa quinta feira

Foi em pleno mês de agôsto

Foi festa e até feriado

Com bolo, vela,biscoito.

Chicão teve um calafrio

E lhe subiu a pressão

Nunca pensou nessa vida

Ter essa decepção

Queria voltar pra casa

Pegar logo outro avião.

Passou esses onze anos

Em frente ao computador

Vivendo dias e noites

Sonhando com seu amor

Sua deusa, sua ninfa

Seu futuro, sua flor.

Mas desde cedo Chicão

Seus problemas enfrentou

Não ia fugir da raia

Logo o rancho ele avistou

Ele iria até o fim

Parou o carro e saltou.

Ouviu o som do piano

Que tocava uma sonata

Na porta da sala aberta

Viu uma moça sentada

De longos cabelos negros

Que nas teclas dedilhava.

Chicão pensou um momento

Antes de pronunciar

- Eu procuro a jovem Sol

E a moça se voltar

Com o rosto cor de neve

E os olhos da cor do mar.

Um buraquinho no queixo

Decote com ombros nus

Cabelos solto em cascata

Olhos verdes, quase azul

Um vestido de florzinha

Sandálias de couro cru.

- Desculpe meu grande amigo

Me perdoe por favor

Por faltar com a verdade

Foi tudo em nome do amor

Saia por aquela porta

Fico só com a minha dor.

Quando falei com você

Logo da primeira vez

Senti um grande carinho

E me deixei envolver

Hoje estou apaixonada

E não quero te esquecer.

Chicão olhou para Sol

No rosto as marcas do tempo

Nos cabelos, fios brancos

Na voz muito sofrimento

Beleza de meia idade

De dor e muito tormento.

Dizem que o amor é cego

É surdo e mudo também

Chicão olhou para a moça

Não pensou em mais ninguém

- Eu vou me casar com ela

Os anjos disseram:"Amém".

Que seriam vinte anos

Para um amor de verdade

Não devo satisfações

A falsa sociedade

Vou viver o que sonhei

Só quero a felicidade.

Chicão abraçou a Sol

Sobre o seu ombro chorou

Tirou o par de alianças

Em seu dedo colocou

Em pé na porta assistia

A cena, o velho senhor.

- Obrigada mãe divina

Por a Sol ter encontrado

O amor de sua vida

Nesse homem apaixonado

Um negro de alma branca

Bonito, fino, educado.

E na semana seguinte

Marcaram prá se casar

Sol e Chicão. Que beleza

Juntinhos ao pé do altar

Depois dos comes e bebes

Saíram prá viajar.

Com as bençãos do senhor

Logo a Sol ingravidou

Um menino e uma menina

No seu ventre ela gerou

Foi tanta feleicidade

Que a história eternizou.

E assim termina a história

De um amor forte e profundo

Que suplantou diferenças

De idade, cor e do mundo

Pois havendo afinidades

Tudo muda num segundo.

Aqui vai o meu conselho

Prá você que vai entrar

Na sala de bate papo

Para um amor procurar

Seja amigo e verdadeiro

Que um amor pode encontrar.

Thereza Fialho
Enviado por Thereza Fialho em 22/04/2007
Código do texto: T459902