Retirantes

 
E lá vão eles passando
Sob um sol causticante
Casinhas pra trás deixando
Passos lentos, claudicantes.
À frente o magro cão
Seguindo a intuição
Dos sofridos retirantes.
 
Caminham sem conversar
Areia ardente aos pés
Porque se a língua secar
Será pior que as galés.
Onde de sede morriam
Os negros que uns traziam
Lá da distante Guiné.
 
Em terra do Sul esperam
A vida com mais fartura
E ao santo que veneram
Rezam pedindo ventura.
Quantos atravessarão
Quantos deles viverão
Após tanta amargura.
 
Nas gaiolas os passarinhos
Pouca roupa pra levar
E os magros jumentinhos
Revezando o descansar.
Nenhuma nuvem no céu
Vão caminhando ao léu
Nem sabem onde vão pousar.
 
Aécio quando pintou
A tela dos retirantes
Aposto que ele pensou:
“é uma cena tocante”.
Verdadeiramente é
E o cajueiro de pé
Na tela é inquietante.

 




 
Brasília, 13 de novembro de 2013