Minha louvação.

Minha louvação.

Fiz a minha louvação

Num cantinho da igreja

Com fervor e devoção

Como quem algo deseja

Mas durante a oração

Fracassei numa peleja.

Eu louvava a criatura

Esquecendo o Criador

Cultuava uma escultura

Como sendo o meu senhor

Pela falta de cultura

Nela eu via o salvador.

Numa estranha homilia

O sermão era explicado

Um falava e outro lia

Para mostrar o pecado

Igualzinho à confraria

Que ficava do outro lado.

Eu tentei ficar distante

Desse altar de zombaria

Era um querer constante

Que nunca diminuía

Talvez o meu Ser pensante

Sair dali preferia.

Fui buscar explicação

Pra esse comportamento

Ninguém estendeu a mão

Só falavam em sofrimento

Me chamavam de irmão

Mas por puro fingimento.

Fui falar com um pastor

Sobre a minha pouca fé

Falei que sou pecador

Como todo mundo é

Também sou trabalhador

Tanto quanto foi José.

O pastor me excomungou

Disse que sou um Diabo

Porém não me explicou

Porque nasci condenado

Ele então desconversou

Disse que estava atrasado.

Fui então falar com o padre

Que a missa ia rezar

Almoçando com a madre

Ela estava a conversar

Disse que toda comadre

Deve do padre cuidar.

Eu saí bem devagar

Não queria ser notado

Sem querer acreditar

No que tinha escutado

Mas ouvi alguém falar

Que eu era obstinado.

Fui falar com o macumbeiro

Que pensei ser inidôneo

Perguntei sobre o dinheiro

Que daria pro demônio

Ele disse: companheiro

Do seu dinheiro és dono.

Não preciso de dinheiro

Para mim não tem valor

Sou um velho garimpeiro

Que viveu do seu labor

Garimpei o tempo inteiro

Na obra do Criador.

Fiz o meu próprio caminho

Hoje estou velho e cansado

Por não cultivar espinho

Eu nunca fui espetado

Apesar de ser sozinho

Sei que sempre fui amado.

Perguntei então por quê?

Tenho tão pequena fé

Ele disse ao responder

Que eu sou igual Tomé

Tenho de ver para crer

Mas esqueço quem Deus é.

Falei que não entendi

Estranha comparação

Ele disse que eu saí

De um lar que é cristão

Porém dele eu desisti

Pra fugir da obrigação.

Eu falei que era verdade

Eu saí pra caminhar

Apesar da minha idade

Não queira trabalhar

Então fui para cidade

Para aprender furtar.

Ele disse que eu andei

Sem a um lugar chegar

Todo o meu tempo eu gastei

Sem sequer um passo dar

Hoje sei que desejei

Mas não fiz para pagar.

Quando eu quis me despedir

Disse o velho garimpeiro

Vá buscar o seu porvir

A ouvir seja o primeiro

Seja honesto ao dividir

A falar, o derradeiro.

Eu segui o seu conselho

Pra minha casa eu voltei

La dobrei o meu joelho

Para os que abandonei

Deles fiz o meu espelho

Minha paz recuperei.

Renato Lima
Enviado por Renato Lima em 29/11/2014
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