CUÍCA DE SANTO AMARO

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Conheci José Gomes, o famoso Cuíca de Santo Amaro, cordelista respeitado, em Salvador. Fazia ponto no Elevador Lacerda e era uma figura conhecida e amada pelos baianos. Foi uma espécie de reporter e cronista do cotidiano da Bahia. Era muito querido e respeitado; sobreviveu até a morte, da venda dos seus cordéis, vindo a falecer em 1964.

Aparecia um fato intrigante, um marido traído, uma fofoca de patrão com a empregada, um assassinato, a mulher de Brotas (que capou o marido), logo, logo, lá estava Cuíca com seu cordel a verberar na fila do Elevador Lacerda, ponto mais movimentado de Salvador.

E sua freguesia era fiel.

Ao grande Cuíca de Santo Amaro, in memoriam

Cuíca de Santo Amaro

Grande fidalgo baiano

Morava em São Salvador...

Um bom cronista, de faro,

Contava o cotidiano

Do coitado e do doutor...

Viveu há cinqüenta anos

Na cidade da Bahia

Que lhe rendia homenagem...

Os seus versos mais insanos

Traziam humor e alegria

E lhe abriam passagem...

Lembro o Elevador Lacerda

bem perto do meio-dia:

A multidão apressada

E gente que andava lerda

Dois minutinhos perdia

Pra ficar bem informada...

Bengala e óculo escuro

Cuíca, bem alto, lia

O seu cordel encantado...

Tinha gente sobre o muro

Que sua voz, atenta ouvia

Sobre fato consumado...

Era cego de nascença

Um cantador diferente

Que contava cada história...

Pra êle, não tinha crença

Fosse inimigo ou parente,

Que escapasse da memória...

Mulher que capou marido

Filho que matou o pai

A boazuda do patrão...

O Cuíca era inxirido

Bota pra fora o que sai

Tudo o que lhe vem à mão...

Seus livretos pendurados

No varal improvisado

Custavam o valor de um pão...

E todo o mundo queria

Participar da alegria

Que tinha em seu coração...

Ricardo De Benedictis
Enviado por Ricardo De Benedictis em 15/09/2005
Reeditado em 29/11/2005
Código do texto: T50726
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