CORDEL REBUSCADO

Minha poesia é chula

Meio insossa; sem tempero

È bezerro desmamado

Temendo ser encabrestado

È um animal vadio!

Feito cadela no cio

Num destempero amuado.

Minha poesia é chula

Meio insossa; sem tempero

Tem vertente marginal

Feito o cantar do bacurau,

Ecoando em noite fria

É Tristeza e alegria

De um poeta atemporal.

Minha poesia é chula

Meio insossa; sem tempero

É o fedor do gambá!

Correndo feito preá,

Temendo ser abatido

É verso doido varrido

Mais pra lá do que pra cá.

Minha poesia é chula

Meio insossa; sem tempero

Burocrática, rebuscada

Pegajosa, desvairada...

Segundo alguns preceitos.

Sem querer botar defeito

Ela num vale uma lapada!

Minha poesia é chula

Meio insossa; sem tempero

Ela é exceção a regra

Cai de porre e não se entrega

Conta esquecida no prego,

Eu devo, falo e não nego:

Ela só que ser as prega!

Minha poesia é pura!

È sincero meu lamento

Cheira a flor da catingueira

Vem do cantar das lavandeiras,

Das cantigas de terreiro

Vem do moleque matreiro

Que se dana a assoviar

Eu canto a minha Pilar

Terra de Zé Lins do Rego.

Minha poesia é pura!

Eu aumento não invento

Vou lhe contar um segredo;

Talvez, eu morra de medo

Mas num bato continência

Não vou perder minha essência;

Minha raiz popular,

Nem tampouco rebuscar

Só pra agradar sua excelência.