PONTO DE INTERCESSÃO

Sempre ouvi falar que o amor e o ódio são vizinhos, qualquer descuido passa-se de um para outro lado. Assim, recomendo que cultivemos o amor e jamais nos deixemos levar pelo ódio. É uma questão de exercitar o amor. O amor tudo suporta! Mas o caso abaixo é um fato ocorrido em Linhares por volta do ano 1976, em frente ao meu local de trabalho:

PONTO DE INTERCESSÃO

Muito próximo do ódio está o amor,

Igualmente se diz da alegria e dor,

Por que não dizer, do bem e do mal ?...

Contar-lhes-ei uma história de horror,

Que se quisessem poderia ser de amor,

Contudo, por descaso tornou-se fatal.

Numa alegre e progressista cidade,

Que reinou o amor e a tranquilidade,

Ouviu-se um dia o frenar de um caminhão...

Eis que duas crianças de tenra idade,

Sem sequer conhecer a felicidade,

Prostravam-se no asfalto, mortas ao chão !

Mas não foi por descuido das entidades,

Das mães, tampouco da sociedade,

Que aquelas frágeis vítimas vieram a perecer...

Quem deveria explicar era um senhor covarde,

Que talvez, fizesse algum alarde,

Não querendo se comprometer.

O povo reunido tomou a frente,

Fez barreiras, quebra-molas salientes,

Querendo outras vidas proteger...

Pois quem sabe e é inteligente,

Não faz, nem permite que o faça a gente,

Dizem ser feio e de nada valer.

Pois bem, o asfalto ficou danificado,

Quebra-molas por todos os lados,

Gigantes, quase intransponíveis...

Por que não dar fim ao impasse criado,

Não acertá-los, fazendo-os disfarçados,

Por que ? É algo vergonhoso, desprezível ?

Feio é não tomar paternidade,

É deixar que uma pacata cidade,

Torne-se alvo de vergonha e inquietude...

Mas tem limites a paz e a tranquilidade,

Limites há entre o herói e o covarde,

Que forçam-nos a tomar uma atitude.

Parabéns ao povo que escolheu,

Em vez de comodidade se mexeu,

Tomou uma atitude, foi a luta...

Cavou, bradou e se esqueceu,

Do social que é, se embraveceu,

Virou fera e ganhou a disputa.

Por certo os órgãos competentes,

Diante de apelos do povo descontente,

Irão tomar uma atitude digna...

Acertarão os quebra-molas, e de repente,

Tudo voltará à calma novamente,

Acaba-se de vez com esse enigma.

Quem viu aquele sangue grosso,

Envolvendo o rosto e o pescoço,

Não pode perdoar os órgãos “competentes”...

Jamais pensaram sequer nos anciões,

Que atravessam o asfalto aos empurrões,

Enfrentando o perigo a todo instante.

Jamais pensaram na humanidade,

Só pensam em alta velocidade,

Para escoar os produtos “urgentes”...

Não pensaram nas crianças, coitadas !

Que vez por outras, a vemos prostradas,

Ao asfalto, mortas, pobres inocentes !

Por que tem que ser assim a vida ?

Ceifadas, abandonadas, perdidas:

Só porque são pobres, desprotegidas ?

Ao certo os que não são sensíveis,

Não fazem nada, nem o que é possível,

Alegam ser inviável, feio, inacessível.

Quebra-molas urgentes precisamos !

Estética, luxo, nem sequer pensamos,

Ademais, o que tudo isso importa ?

Ter cidade bonita, pistas largas,

E depois ter que suportar as cargas,

De ver crianças, mais crianças mortas !