CANDEEIRO O CORREIO DE LAMPIÃO

Mais uma história colhida

No nordeste brasileiro

Quando o povo era sujeito

A volante e cangaceiro

Vida, morte e confusão

De um cabra de Lampião

Por nome de Candeeiro.

Seu papel de mensageiro

No bando de Lampião

Sempre lhe expunha ao perigo

De sofrer uma traição

Mas o medo de vingança

Lhe garantia a chegança

Nunca perdeu uma missão.

Candeeiro no sertão

Nunca foi homem valente

Tinha uma vida pacata

Ao lado de sua gente

Estava sempre comentando

Que só entrou para o bando

Devido a um acidente.

No seio de sua gente

Nunca foi o Candeeiro,

Manoel Dantas Loiola

O seu nome verdadeiro

Né, o povo lhe chamava

Na roça ele trabalhava

E era excelente vaqueiro.

Pernambuco era o celeiro

Do cangaço nordestino

Os maiores cangaceiros

Tiveram ali seu destino

Assim como o Cabeleira

Os filhos de Zé Ferreira

Dentre eles Virgolino..

Todo sertão nordestino

Tem um causo cangaceiro

Pernambuco teve mais

Por nascer mais bandoleiro

Buíque imortalizou-se

Por ter dois que destacou-se,

Jararaca e Candeeiro.

Quando um grupo cangaceiro

Do grupo de Lampião

Passando em uma fazenda

Encontrou um batalhão

Formou-se um tiroteio

O espernegue foi feio

Bala em toda direção.

Naquela ocasião

Manoel tava na fazenda

Teve que se esconder

Pra escapar da contenda

No fim do panavueiro

Fugiu com os cangaceiros

Pra evitar reprimenda.

No fim de toda contenda

Entre volante e cangaço

Com a fuga dos cangaceiros

Fosse vitória ou fracasso

Quem ficasse no local

Polícia baixava o pau

No maior estardalhaço.

Zelando pelo espinhaço

Manoel foi com os cangaceiros

Passou uns dias seguindo

O bando no tabuleiro

Até ser apresentado

Ao chefe e batizado

Com o nome de candeeiro.

No seu combate primeiro

Candeeiro foi baleado

Com um balaço na coxa

Mas logo ficou curado

Com pimenta esmagada

E farinha peneirada

Não ficando deformado

Quando estava baleado

Chegou a ocasião

Que ele tanto esperava

De conhecer Lampião

Que sempre afastado esteva

E nunca se misturava

Muito tempo com o grupão.

Depois da apresentação

Lampião ficou sabendo

Que ele era Buíque

Sorridente foi dizendo:

«Sua cidade não é fraca

Pois já me deu Jararaca

Que morreu me defendendo.»

Candeeiro convalescendo

Já recebeu a missão

De levar cartas escritas

Pelo chefe Lampião

A coronéis e coiteiros

Comerciantes, fazendeiros,

Lhes pedindo doação.

Nunca perdeu uma missão

Sempre trouxe resultado

Com isso ele conquistou

O chefe desconfiado,

Onde Lampião estava

Maria lhe acompanhava

E Candeeiro de um lado.

Quando estavam acampandos

Em Angicos, Alagoas

Candeeiro comentou

Que a toca não era boa

Podiam mudar de lugar

Lampião disse «Tu tá

Se preocupando á toa.»

A coisa não estava boa

O chefe desanimado

Ia reunir o grupo

Para um comunicado

Lhes davam autonomia

E ele se afastaria

Que estava muito cansado.

Estava preocupado

Com a falta de segurança

Os «macacos» nas estradas

Tinham arma em abundância

E eles na capoeira

Não podiam dar bobeira

Nem cair numa matança.

O claro do dia avança

Era hora de acordar

Candeeiro se levanta

Vai lá fora urinar

Viu Lampião no terreiro

Ouviu o tiro certeiro

E viu o chefe tombar.

Só deu tempo de abaixar

E correr todo mijado

Faiscas por todo canto

Com bala pra todo lado

Gente no chão se arrastando

Ele desceu atirando

Correndo desesperado.

Ainda foi baleado

No braço, mas não ligou

No eito Maria Bonita

Com outros também tombou

A volante em euforia

Com Lampião e Maria

Por isso ele escapou.

No mato se amocambou

Até que o braço sarasse

O governo prometeu

Salvar a quem se entregasse

E prometiam também

Não atirar em ninguém

Se ninguém mais atirasse.

Criou-se então um impasse

No meio do tabuleiro

Uns seguiram com Corisco

Continuando cangaceiro

Outros sem querer brigar

Resolveram se entregar

Entre eles, Candeeiro

Seguiram como romeiro

Pela estrada caminhando

Com o braço na tipóia

Candeeiro ía andando

A policia os encontrava

Um por um os desarmava

E seguia acompanhando.

Em Jeremoabo entrando

Parecia uma procissão

O povo os acompanhava

Sem briga, sem confusão

E dezesseis cangaceiros

Seguindo o mesmo roteiro,

O caminho da prisão.

O governo deu o perdão

Não assassinou ninguém

Passaram dois anos presos

E o candeeiro também

Cumpriu a pena num pique

Saiu de iá pra Buíque

Tornou-se um homem de bem.

Se instalou com um armazém

De estivas e cereias

Manoel Dantas Loiola

Morando com os seus pais

Não quis mais ser cangaceiro

E por nome Candeeiro

Não atendeu nunca mais.

Vivendo nos carrascais

Do lugar onde nasceu

Seu Né construiu família

Daquele tempo esqueceu

E ainda cheio de planos

Com noventa e sete anos

Em Buíque faleceu.

Dois anos ele viveu

No cangaço ao relento

Dois anos em jeremoado

Na condição de detento

Se alguém nisso falava

Ele apenas comentava:

«Foi tempo de sofrimento.»

Zé Lacerda
Enviado por Zé Lacerda em 12/07/2015
Reeditado em 14/07/2015
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