* Uma festa de aniversário *

O palacete brilha.

A agitação é imensa.

Lâmpadas lembram rubis

São postas na sala tensa

Orquídeas nas mesas,

É o natalício da princesa

Da pequena Beatriz atenta.

Ela, o centro da festa,

A bela pequenina, do casarão.

Feito com requinte e capricho,

Parecia coisa da imaginação

Completava oito primaveras.

Sábia e elegante de veras

Quieta não parava, não.

Para todos que a cercavam,

Era sempre gentil, generosa,

Um encanto de menina.

Delicada, amável, glamorosa.

O dia terminava, ante o Sol quente,

Entretanto, Beatriz, sorridente,

Encantava os convidados, carinhosa.

Embora muito gripada,

Sentia-se feliz na ideia de abraçar.

A única filha do casal

Alegre parecia voar.

De improviso, ela avista Marcela,

Uma menina pobre e amarela.

Pedindo esmola para ajudar.

Beatriz sente dó da pequena

Vestida em trapos remendados

E abraçando-a, anuncia:

– Vocês são meus convidados.

Hoje é simplesmente meu dia,

Quero que sejas de alegria

Vamos comer bolo confeitado.

Mas ao apresentá-la à sua mãe

Que parece manter-se de vigia,

Nos adornos da sala, atenta

Mal acreditado no que via

– Esta é Marcela, que sempre vai

Ao nosso educandário com seu pai

Que está doente com paralisia.

Quero dar a ela um pedaço do bolo.

A menina fica triste a escutar

A mãezinha dizer, séria e zangada:

– Por onde foi você buscar

Esta garota esfarrapada,

Suja, fedorenta e remendada?

Será que pode me contar?

Nossa festa é de amigos,

Nossa casa não tem ligação

Com mendigos, mal vestidos, filha.

Olhe aqui, preste atenção!

E fitando Marcela, a dama continua:

– Saia daqui agora, seu lugar é na rua.

Já causou muita confusão.

A menina em andrajos sai correndo,

Beatriz incrédula fica parada,

Sob choque do que ouviu

Treme e chora desconsolada.

– Filha, por que você tem essa mania.

Diz a mãe com pouca simpatia

De dar atenção para crianças esfarrapadas?

Não traga menores maltrapilhas.

Pouco tempo depois, a festa começava.

O bolo enfeitado e oito velas pequenas,

Vozes erguiam felicitações, irmanava

Com votos e canções num painel

Com rosas e açucenas de papel

E uma linda orquestra vibrava.

Terminada, porém, a festa linda,

A família enfrenta o inesperado

Nove horas da noite... Cedo ainda...

A pequena Beatriz havia piorado.

O médico investiga, examina

E conclui pela voz da medicina:

– Infelizmente, é triste o resultado.

Ela está com um monstro fulminante.

Espero que melhore com a medicação.

De instante em instante a doente piora,

Agita-se, delira e faz confusão.

Mamãe já sei quem expulsou Marcela,

Quero dar de meu bolo um pedaço a ela.

Por que ela mora em meu coração.

- Mamãe gostaria de saber

Porque tenho tanta roupa guardada?

E a pobre Marcela não tem

Anda assim toda esfarrapada?

Deus não deu a ela, o que me deu?

A mãe chorando, nada respondeu.

Mas, Beatriz não ficou calada.

– Eu quero ver Marcela!

Finda a noite e ao amanhecer,

Depois de uma impiedosa agonia

A pequena Beatriz veio falecer.

Sua mãezinha gritou a soluçar:

– Deus queira me perdoar.

Em prantos vou me desfazer.

– Filha de minha vida,

Não vá agora pro além.

Ajude tua mãe a iniciar

E entrar na prática do bem!

Mas Beatriz, sem mais sentir dor

E sem poder afastar aquele amargor

De sua mãezinha que queria bem.

Estampou na face desfalecida

Um sorriso lindo de amor.

Por que afinal de contas

Sua mãezinha se encontrou

Teve a capacidade de amar

E no próximo encontrar

A continuidade de Nosso Senhor.

Claudia Pinheiro
Enviado por Claudia Pinheiro em 26/07/2015
Código do texto: T5324445
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