A casa do fantasma
Uma casa abandonada
Num lugar mal assombrado
Sem janela e sem escada
Tinha o piso esburacado
Em geral era evitada
Por quem era amedrontado.
Nessa casa estava o tempo
Entretanto era parado
Com sinais de sofrimento
Marcas de amor guardado
Desprezada pelo vento
Sempre estava empoeirada.
Num momento de tristeza
Disse a casas ser sozinha
Viveu tempo de beleza
Muita gente na cozinha
Pra servir a realeza
Na sua simples vidinha.
Disse que já foi modesta
E também um prédio belo
Hoje é tudo que resta
Da riqueza do castelo
Carrega um sinal na testa
Pra servir ao jovem velho.
Já pensou em desfazer
As paredes de madeira
Quando as fez sentiu prazer
Pôs data na cumeeira
Mas o tempo fez valer
A chuva, sol e poeira.
Todo tempo que viveu
Trabalhou de sol a sol
Nunca se aborreceu
Teve a lua por lençol
Mas de tudo se esqueceu
Hoje está sem seu farol.
Vê no tempo a passarela
Que já lhe serviu de ponte
Vê na porta a taramela
Que segura o horizonte
Sua vista hoje é aquela
Que aponta para o monte.
Nesse monte a aventura
Deixou marcas do passado
Já serviu de cobertura
Para o rei descamisado
Que viveu a desventura
De esquecer o outro lado.
Nos seus dias de grandeza
Foi um rei sem compaixão
Construiu a fortaleza
Com o suor do seu irmão
Que não sendo da nobreza
Não tinha direito ao pão.
O rei amaldiçoava
Todos que o combatiam
A todos prender mandava
Assim todos o temiam
Todo dia ele ordenava
Quantos servos matariam.
Esse rei atormentava
Todo o séquito real
Ele pouco se importava
Se pra um faltava o sal
Em geral ele mandava
A guarda baixar o pau.
Sua guarda era estridente
Cega sempre obedecia
Na verdade, conivente
Com tamanha covardia
Era falsa e prepotente
Ser amiga não sabia.
Ela sempre era mandada
Pra fazer a captura
De quem ia pela estrada
E mandar pra sepultura
Mesmo não devendo nada
Era morta a criatura.
Mas o tempo foi passando
E o rei adoeceu
Dia a dia piorando
E um dia ele morreu
Viu seu corpo se acabando
E então se arrependeu.
Foi então morar na casa
Que fizera pro seu cão
Seu fogão não tinha brasa
Pra poder assar um pão
Pra voar ganhara asas
Era agora assombração.
Seu olhar era vermelho
Sua boca era um buraco
Não se via no espelho
Como roupa usava um saco
Precisava de conselho
Pra pedir estava fraco.
Foi então que descobriu
O remédio pra viver
O fantasma se abriu
Viu que o uso do poder
Dele fez alguém servil
E por isso agradeceu.