Toada do vaqueiro

Bom dia a todos os amigos e amigas do Recanto, esta é uma pequena homenagem que presto aos vaqueiros, classe de trabalhadores que o progresso extinguiu.

Na toada do vaqueiro

Há tristeza recolhida

Há um pouco de dinheiro

Há saudade na partida

Em geral há companheiro

Pra seguir na nova lida.

Seu horário de trabalho

Começa no alvorecer

Enfrentando o frio orvalho

Ele cumpre o seu dever

Vai cumprir o seu ordálio

Pra poder sobreviver.

Já ganhou capacidade

De gerir a própria vida

Conhece a dificuldade

Que existe na partida

Com a sua honestidade

Entrega a rês prometida.

Ele toca o seu berrante

Pra poder tanger o gado

Quando vê um caminhante

Pede pra tomar cuidado

Quando para algum instante

Fica sempre bem postado.

Nas estradas do sertão

Vai e vem continuamente

Vence a sua solidão

Com a fé e tão somente

Tem no peito uma oração

Para ter Deus no presente.

Lembra da mulher amada

Que ficou entristecida

Não está abandonada

Ela tem sua guarida

Além dela não tem nada

Que alimenta a sua vida.

Tem família bem formada

Mas do lar sente saudade

Isso é uma encruzilhada

Que ele sabe ser verdade

Na sua terra sagrada

Quer ter sua eternidade.

A toada é a palavra

Do seu coração partido

Ele não a desagrava

Seu respeito é garantido

Se conduz uma rês brava

Ele fica prevenido.

Se o patrão falha no trato

Não paga o que foi falado

Ele fala que o contrato

Deve ser mais respeitado

E esquece algum mau trato

Se recebe o combinado.

Nas estradas das fazendas

Ele busca a rês fugida

Agradece as oferendas

Que ganhou ao dar partida

Ele sabe que é lenda

O que falam dessa vida.

O vaqueiro segue a frente

Do rebanho conduzido

Ele guia a sua gente

Por caminho conhecido

A tristeza que ele sente

É o seu amor contido.

Nas janelas das casinhas

Que há ao longo das estradas

Sempre há uma mocinha

Que está apaixonada

Pensando sofrer sozinha

A vida não desejada.

Se encontra uma mata-burros

O vaqueiro se entristece

Mas não vai brigar a murros

Sabe que isso acontece

Apesar de alguns sussurros

Sóbrio ele permanece.

Se encontra outra boiada

É preciso separar

Sabe que na invernada

Não dá pra recuperar

Ele então deixa a boiada

Junta no mesmo lugar.

Quando entrega a encomenda

Chega a hora de voltar

Ele vai a uma venda

Um mantimento comprar

E depois em uma senda

Deita para descansar.

No caminho de retorno

Ele encosta o seu berrante

Que agora vira adorno

Apontando o horizonte

Ele olha em seu entorno

Pra saber se está distante.

Na toada do vaqueiro

Há um som inconfundível

Ele nunca é o primeiro

Som a ser compreensível

Mas talvez o derradeiro

Grito do homem sensível.

Renato Lima
Enviado por Renato Lima em 22/08/2015
Reeditado em 22/08/2015
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