A nau desgovernada.

Uma nau desgovernada

Esquecida por engano

Tinha a proa avariada

Sem o mastro e sem o pano

Tinha a sorte marcada

Ir pro fundo do oceano.

Essa nau desgovernada

Tinha em si um vendaval

Que a fazia indesejada

Como agente do mal

Era sempre afugentada

Pra seguir pro seu final.

Um menino a comandava

Com palavras simplesmente

Cada um cumprimentava

E sorria alegremente

Quando a solidão chegava

Ele estava bem presente.

Nos momentos de agonia

Quando o mar encastelava

Seu comando aparecia

Para o mar ele falava

Eis aqui a calmaria

E o mar se acalmava.

Nos momentos de lazer

Ele olhava a caminhar

O que tinha de fazer

Para a nau não afundar

Esse era o seu dever

Não podia fracassar.

Nessa nau os descontentes

Encontravam a solidão

Esqueciam que os valentes

Lutam contra a ambição

Só os fracos e os doentes

Preferem não ter ação.

O valente capitão

Nem ao menos soletrava

Carregava em uma mão

A corda que amarrava

E na outra um lampião

Que a nau iluminava.

Apesar de pequenino

Tinha a tez preocupada

Navegava sem destino

Numa nau avariada

Sem cultura e sem ensino

Tinha a vida amargurada.

Certo dia ele enxergou

Outra nau desgovernada

Dela se aproximou

Porem nela não viu nada

Assim mesmo ele adentrou

Pra saber se estava armada.

No porão ele encontrou

Uma dama amordaçada

Um marujo obediente

Que não entendia nada

Madeirame ainda quente

E a vela incendiada.

Ao fazer menção de ajuda

Um disparo aconteceu

O rapaz disse me ajuda

O meu capitão morreu

Essa mulher, não se iluda,

Tem culpa do que ocorreu.

Esse tiro é um aviso

Outros mais poderão vir

Fique de sobreaviso

Acho que deve partir

Será grande o prejuízo

Se você não quiser ir.

A mulher ele soltou

E lhe estendeu a mão

Depois disso perguntou

Qual a sua obrigação?

Ela pro menino olhou

E falou sua missão.

Eu procuro pelo filho

Que o mar de mim tirou

Ele é fruto de um idílio

Que jamais ao fim chegou

Ele tem no rosto o brilho

Que pra mim você mostrou.

O menino respondeu

Eu também procuro alguém

Sei que ela já morreu

Mas não digo pra ninguém

Tudo que aconteceu

Ela fez para o meu bem.

Minha mãe me abandonou

Num lugar mal afamado

La alguém me encontrou

E me pôs em um cercado

E depois me internou

Em um lar de rejeitados.

Nesse lar eu encontrei

Meus amigos de jornada

Eu a eles convidei

Pra seguir a nova estrada

Entretanto eu fracassei

Eu a eles não dei nada.

Nisso a mulher sorriu

E falou que o momento

De rever a mãe surgiu

Apesar do mau momento

Ele então a descobriu

Pelo próprio sentimento.

Ambos se reencontraram

Numa nau desgovernada

Mas depois a governaram

Navegando em disparada

Quando no porto chegaram

Viram a paz reencontra

Renato Lima
Enviado por Renato Lima em 29/08/2015
Reeditado em 29/08/2015
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