Apenas eu

Sou apenas o que restou

De um destino indesejado

Para mim nada mostrou

De que vale ser honrado

De mim sempre retirou

O pouco economizado.

Riu de mim o tempo inteiro

Não deixou eu aprender

Fez de mim um estradeiro

Tendo nada pra fazer

Foi também um zombeteiro

Quando eu quis compreender.

Não me fez trabalhador

Não deixou eu prosperar

Só me dava dissabor

Não deixava eu reclamar

Nas vezes que deu labor

Não admitiu pagar.

severo em exigir

Até o que eu não devia

Proibiu-me construir

O lugar que moraria

Mandou alguém destruir

O que eu construiria.

Não deixou que eu aprendesse

A viver decentemente

Proibiu que eu atendesse

Quem falava docemente

Disse que eu compreendesse

Que eu era inexistente.

Fui assim me acostumando

A viver comigo mesmo

Um pouco raciocinando

Muito caminhando a esmo

Ao meu eu ignorando

Não sabendo de mim mesmo.

Certo dia alguém me disse

Que eu devia me livrar

Quando livre ele me visse

Poderia me ajudar

E que se a ele ouvisse

Poderia melhorar.

Disse a ele que eu era

Um estranho no planeta

Minha casa era uma cela

Numa rua muito estreita

Apesar de não ser fera

Comia numa valeta.

Esse alguém então medisse

Já e hora de parar

Disse que lhe permitisse

Um pouquinho me ajudar

Antes que o sol saísse

Ele iria me soltar.

Eu somente obedeci

Disse a ele que fizesse

Nele eu reconheci

Alguém que se obedece

E assim eu permiti

Que ajuda ele me desse.

Descobri nessa mudança

Que também sou importante

Saí da ignorância

Consegui seguir adiante

Aprendi ter esperança

Numa vida radiante.

Sei que sou apenas eu

A falar sobre o que sou

Tenho o destino meu

Mas também ele mudou

O que ele prometeu

A promessa ele honrou.

Meu destino melhorou

Minha sorte tem um alvo

Mesmo se não compensou

Eu porem estou a salvo

De um tempo que passou

Onde eu vivi escravo.

Foi um tempo bem difícil

Muito pouco aproveitado

Não cumpri o meu ofício

Meu viver ficou de lado

Assim conheci o vício

Convivi com viciado.

Prometi a mim sair

Daquele caminho insano

Eu pensei em desistir

Com medo de sofrer dano

Conseguindo resistir

Fiquei até mais humano.

Dei a mim novo trabalho

Quero ser um aprendiz

Não vou procurar atalho

Faço o que bom senso diz

Vou remover o cascalho

Da estrada do infeliz.

Renato Lima
Enviado por Renato Lima em 05/12/2015
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