A história de Lindoia e Zé Lamparina andarilho do sertão

Peço a licença de vós mecês

Para um acontecido inusitado

Com brevidade eu contar

Essa historia, aconteceu lá pras bandas do sertão,

Das profundezas mais profundas

Da onde o sol não se aretira não.

De vez em quando, caia uma chuvinha bem pouquinha

Para o alimento do povo brotar

Mais nessa cidadezinha

Era um coronel pão duro que mandava por lá

Esse Coronel dono de uma riqueza tão rica

Era dono dos rios, terras e ate as águas que caia na bica

Era metido a ser dono do sertão

Não tinha medo de nada

Nem da polícia quiçá do bando de lampião

Como acontece em toda historia

O Coronel tinha uma filha chamada Lindoia

Que lhe pedia toda hora

Para um marido pra ela arranjar

O Coronel estava disposto a casar sua fia

Mais uma exigência ele fez ela aceitar

Tinha que ser um noivo rico

Pra com as riquezas dele juntar

Pois se fosse noivo pobre dinheiro ele não ia dar

Mais, só tinha um problema

Naquela redondeza, homem rico era difícil de arranjar

Além da feiura de Lindoia

Que ninguém tinha coragem de enfrentar

Entrava ano saia ano e o fogo de Lindoia só a aumentar

O Coronel no desespero pra não se prejudicar

Como não arranjava um homem rico...

Resolveu um plano montar

Com o primeiro besta que aparecesse na cidade

Decidiu a sua fia casar

Pois com o povo da cidade o coronel não podia contar

Pois sentia medo quando a fia do coronel saia pra passear

Pra despachar o tal pacote

Ele fazia qualquer coisa

Dava terras, boi, garrote

Também muito dinheiro dentro desse dote

Ainda, falava pra todo mundo

“ - Quem casar com minha fia é um cabra de muita sorte” (imitando a voz do coronel)

Pois bem! O acontecido aconteceu !

E sem muita demora

Vamos lá contar o que realmente ocorreu

Lá naquelas bandas do sertão...

Chegou meio perdido um cabra corajoso, brigão

Não tinha medo de nada

Pois fazia parte do Bando de Lampião

Só que andava sozinho pois era homem de bom coração

Seu nome era Zé! Zé Lamparina andarilho do sertão

Sabendo da proposta do tal coronel

Não pensou em outra coisa não

Pois tava querendo arrumar família e sair da solidão

Parar num canto quieto e deixar de andar pelo sertão

Só não contava com a “feiura” da donzela (faz o gesto das aspas)

Que o coronel só deixava vê-la pelo buraquinho da janela

Ate o dia de ir pra capela

O padre, o Sacristão e as beatas de plantão

Não aguentavam de ansiedade a hora da celebração

Da noiva para o noivo a quem o coronel iria dar a mão

Foi o casamento do ano cheio de comida e animação

Apesar de ser pão duro nisso o coronel não ligou não

Pois pra casar sua fia “feia” não teria outra solução

Na cidadezinha não se falava em outra coisa:

Que o Zé Lamparina andarilho do sertão

Acostumado com faca, espingarda, revolver e facão

Não iria querer dormir na cama com aquele canhão.

Mais como o destino é justo

E deus escreve certo por linhas tortas

Na hora da celebração que os noivos ficaram de frente

Teve gente que ruía unha e outros batia os dentes

Esperando Zé tomar um susto e sair correndo pela porta

Ficaram todos de boca aberta com a situação

Zé Lamparina olhou pra ela e disse com muita emoção: (imitando)

Se beleza trouxesse felicidade eu ficava perdido pelo sertão

Uma moça donzela que nem você

É difícil de conquistar o coração

Seu pai acha que um golpe vai me dar

Mais tenho certeza que minha hora vai chegar

Pois não tenha medo, venha comigo

Pra mim não importa riqueza nem beleza

Pois assim diz padre

O amor é pra pobreza ou riqueza , saúde ou doença feiura ou beleza

Deixa ser seu marido e ter com você muitos filhos

O povo de cabeça baixa ficou outros ate murmurou:

Ou esse cabra é cego ou algum feitiço ela jogou

O coronel Gaguejou, assobiou ate o suor do rosto ele limpou

E dando ordem pro padre meio apreçado ele falou: (Imitando)

Começa logo esse casório

Já que de minha filha o cabra gostou

E para o Zé o coronel falou:

Cabra! Você é um homem de valor

Pois com a feiura de minha filha você não se assustou

Sendo assim vou fazer o combinado

Vou te dar as terras e os gados e o meu dinheiro que esta guardado

Todos prestando atenção no coronel deixaram a moça de lado

O que ninguém sabia foi o que a moça tinha preparado

Um plano bem perfeito pra presentear seu amado

Queria um amor sincero e ela viu que tinha achado

Um homem que não ligava pro seu dinheiro e feiura

Só queria esta a seu lado

Nesse meio tempo pegou um pano que estava guardado

Começou a limpar o rosto que estava todo borrado

Borrado das tintas que tinha passado

Pois misturava muitas cores pra sua maquiagem fazer

E assim, então muito feia aparecer

Continuou O povo prestando atenção

Na conversa do coronel padre e sacristão

Não tinham visto a tal transformação

Lindoia se transformou em uma princesa do sertão

Foi beata desmaiando, o povo correndo e gritando sem noção

É feitiço o que ela fez não vou ficar mais aqui não

Pois não acreditava o que tinha acontecido

Pela rapidez daquela transformação

O noivo sorria, cantava, pulava sem soltar a sua mão

O coronel pão duro ficou nervoso com aquela situação

Pois iria dar sua riqueza para um pobre andarilho do sertão

Sua mulher logo o acalmou mostrando que o cabra tinha valor

Então pensando bem logo ele aceitou

Pois sabia que seu dinheiro

Iria pra um cabra pobre mais com muito valor

O que era pobre ficou rico o que era feio ficou bonito

Sem nenhuma explicação

Sua mãe que estava sentada

E que ate agora estava calada

Deu grito para a multidão que corria desesperada:

Meu povo deixa disso

Aqui não existe nenhum feitiço

Pois eu já sabia de tudo que aqui aconteceu

Arrumar um marido assim minha filha escolheu

Arranjar um amor verdadeiro que não olhasse o valor do seu dinheiro

Feia ou bonita isso não importa

Pois quando o amor lhe bate a porta

O seco se torna verde o que secou se torna flor

E isso se chama verdadeiro amor

E termina esse casório padre pra nós cair no forró

Fim