Gôndolas de almas
 
Por carência ou necessidade
O nome que se queira dar
Sai o cliente à procura
Do produto que a sonhar
Satisfaça sua vontade
Sem noção do que a figura
Possa lhe proporcionar
 
Busca despretensiosa
Já que não houve um plano
E a predisposição
Nem se conta há quantos anos
Por si mesmo não descobre
O quanto seu íntimo cobre
Sem querer saber de enganos
 
É que a razão não é mestra
Nessa coisa do sentir
E é sentindo assim discreta
A flecha que irá atingir
Mesmo que finja de esfinge
Diga não ao que lhe impinge
Impossível não seguir
 
Frente às gôndolas de almas
Com seus apelos e charmes
Vagueia com toda calma
Sem notar por dentro o alarme
Porém verifica lento
Que talvez seja o momento
E achou o que nem pensava
 
Leva pra casa o pacote
Guardado bem lá por dentro
À prazo é que se descobre
Os juros nos pagamentos
A incompatibilidade
Que o gostar na verdade
Cancela o discernimento
 
Nesses casos o cliente
É quem não aceita a troca
Se a razão surge na mente
A emoção lhe boicota
O produto improducente
Mordaz ou marotamente
Murcha, implode e desbota
 
É possível que o sonho
Ainda comande tudo
Nesse negócio bisonho
De um amor absurdo
Pobre, infeliz e estranho
Que justifique o tamanho
De uma paixão sem futuro