O Preço do Desprezo

"Quando ele era ainda criança

O seu pai lhe abandonou

Mandou sua mãe ir embora

Jogou-a de porta à fora

Sem sentir nenhum rancor

O motivo do desprezo?

Um preconceito doentio

O bebê tinha pele escura

Ele, sem nenhuma ternura

Mostrou ter um coração vazio

Ele era um fazendeiro rico

Não sabia o que possuía

Para a esposa ele falava

Que o que mais desejava

Um filho era o que ele mais queria

Quando a esposa engravidou

Foi contar-lhe a novidade

Ele pulava de alegria

Sorria, cantava e dizia:

'É a maior felicidade'

Convidou alguns amigos

E deu aquela festança

Gastou muito dinheiro

Festejou o dia inteiro

Em homenagem à criança

Cuidava bem da esposa

Com ela ao médico ía

Guardava com muito carinho

A foto do bebezinho

Tirada em ultra-sonografia

Nove meses se passaram

Chegou o grande momento

Ele na sala de espera

Angustiado feito uma fera

No maior desalento

Quando o bebê nasceu

Foi grande a sua surpresa

Esperava um menino claro

Naquele momento raro

Foi triste a sua tristeza

O menino era escurinho

Para a sua decepção

Com o peito cheio de dor

Esqueceu-se do amor

Que havia no coração

Numa ira violenta

Fugiu do hospital

Nunca mais o filho quis ver

Não queria nem saber

Se estava bem ou estava mal

A mãe no desepsero

Não sabia o que fazer

Com ajuda dos amigos

Enfrentou muitos perigos

Pra ver seu filho crescer

A mãe angustiada

E sem nenhum sossego

Saiu pelo mundo à fora

Aquela triste senhora

À procura de um emprego

Na primeira opurtunidade

Sentiu uma dor no peito

O patrão a desprezou

Por causa de sua cor

Que infame preconceito!

Voltou pra casa chorando

Com o coração ferido

De lutar nunca deixou

Por causa do grande amor

Por seu filho querido

Noutra empresa ela chegou

Toda envergonhada

Um emprego então pediu

O patrão lhe sorriu

E ela foi contratada

Aquele homem humilde`

Porém, rico como o quê

Tornou-se o seu patrão

E tinha no coração

Amor pra lhe oferecer

Eles se apaixonaram

E começaram a namorar

Em pouco tempo depois

O amor que havia nos dois

Levaram-nos a se casar

Aquele homem bondoso

Adotou, então, seu filho

Que por toda a sua vida

Que achava tão sofrida

Encontrava um novo brilho

A criança foi crescendo

Com muita sabedoria

O pai com paciência

Ensinava-lhe a decência

A paz e a harmonia

O menino então cresceu

Se tornou muito educado

Honesto, trabalhador

E por isso se tornou

Um homem respeitado

Formou-se na faculdade

Em administração

Sua mãe toda orgulhosa

Sensível feito uma rosa

Chorava de emoção

O seu pai idoso e fraco

Disse: "Filho vem cá.

Já estou muito cansado

Hoje fico aposentado

Não posso mais trabalhar

A partir de hoje, meu filho,

Você será o patrão

Você é inteligente

E muito eficiente

Não haverá decepção."

O filho com humildade

Aceitou preocupado

Mais com muita eficiência

E muita diligência

Dava conta do recado

Certo dia no emprego

Chegou um homem angustiado

Chorando feito criança

Vivia sem esperança

E era muito maltratado

Ajoelhado e tremendo

Foi falar com o patrão

E disse àquele moço:

"Por favor, dá-me um almoço

Não tenho outra solução

Para não morrer de fome

Vivo pedindo comida

Mas nem sempre foi assim

Acredite, acredite em mim

Já tive uma outra vida

Eu era um fazendeiro rico

De tudo tinha um pouco

Tinha uma fazenda de gado

Manções, carro importado

Comprava e não recebia troco

Mas isso tudo acabou

Hoje eu moro na rua

Sem família, sem parente,

Com fome, fedido e doente

Durmo olhando pra lua

Sei que tenho um filho

Mas não sei onde ele está

Não assumi o compromisso

Talvez seja por isso

Que hoje vivo a penar

Quando ele, então, nasceu

Mandei sua mãe ir embora

Por causa de sua cor

Hoje sinto muita dor

Pois não sei onde ele mora"

Sua mãe, então, chegou

E viu aquela cena

O homem ali de joelho

Ficou todo vermelho

Ao ver aquela morena

Era aquela mulher

Que um dia ele abandonou

Belamente, bem vestida

Havia vencido na vida

Depois que ele a desprezou

Ela disse para o filho:

"Este homem é teu pai.

Quem não tem amor no mundo

Sofre feito vagabundo

E na vida logo cai"

O filho, então, dividido

Não sabia o que fazer

Se socorria aquele homem

Que estava morrendo de fome

Ou se o deixava morrer

Saiu por um momento

Da sala onde estava

Em pouco tempo voltou

Chorando o pai encontrou

E ele até soluçava

O pai tremendo de medo

Chorando de emoção

Ajoelhado arrependido

Disse ao filho esquecido

"Filho, te peço perdão!"

Aquele filho amoroso

Do seu sofrimento esqueceu

Perdoando aquele troço

Que ali cheio de remorso

Segurando sua mão, morreu!

Meu caro leitor

Preste atenção no que vou falar

Não se despreza a família

Esposa, filho ou filha,

Sem um alto preço pagar!"

Renato Brial
Enviado por Renato Brial em 10/07/2007
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