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* O CONTADOR DE MENTIRAS, xilogravura de J. Borges (Bras.).





COISA REAL
(Estilo cordel)
 


Vou te passar historinha,
Coisa do mundo real
Que se vem desenrolando
Com certo amigo casal:
Dois entes apaixonados,
Ante um pretenso final.
 

Foi por motivos banais
Que José perdeu Maria,
Eternos enamorados
Que ninguém jamais diria
Fossem ficar desunidos
Por bobagem tão vazia.
 

Maria cedo mostrou-se
De José com ciumeira,
Mas o rapaz contestava,
Também falando besteira
E só citou velhos casos
Por palavra verdadeira.
 

As intenções de José,
A dar aos bois nome cada,
Era convencer à moça
De que não tinha mais nada
Com aquele mulherio,
Pois ela, sim, era amada.
 

Enquanto brigas ferviam,
Muitas e mais desavenças,
José contraiu ciúmes,
No amor perdeu suas crenças,
Imitou da dama os modos,
Já do ciúme às expensas.
 

Pois a coisa foi rendendo,
Maria ficou metralha,
Encostou José ao muro,
Fez cavalo de batalha.
E, para encurtar conversa,
Deu no gajo até de palha.
 

De José cobrou devassa,
Quis saber mesmo os sigilos,
Coisas que o moço não tinha,
Mesmo porque são cochilos
Violar correspondências;
Isto não faz bons estilos.
 

No fim da novela toda,
José saiu chamuscado:
Por vingança sem futuro,
Seu amor posto de lado,
Feito traste que se enjeita,
Lá no canto de um sobrado.
 

E, num balanço sincero,
José não traiu Maria.
Ao contrário, tanto a ama
Que à donzela desafia:
Oh, volta, querida amada,
que tu serás minha, um dia.
 

Em tempo! Sei tudo isto,
E no José acredito,
Pois amigo e confidente.
Diz ter amor infinito,
Só que, pelo bem da moça,
Fica o dito por não dito.

 

Fort., 02/06/2016.
Gomes da Silveira
Enviado por Gomes da Silveira em 02/06/2016
Código do texto: T5654712
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