Casa de pensão

Numa casa de pensão

Certo dia eu adentrei

Procurava distração

Que ali não encontrei

Pra minha desilusão

Só com vícios deparei.

Encontrei uma mulher

Feia, suja e desdentada

Segurando uma colher

E uma faca afiada

Dizendo que se quiser

Faria a vida acabada.

Então veio outra mulher

Pedir calma à companheira

Dizendo que se houver

Uma morte por bobeira

Ninguém mais nenhuma quer

Ficarão sob a goteira

A madame apareceu

Pra botar ordem na casa

Disse que tudo era seu

Que ninguém criasse asa

Sua casa ofereceu

Porém isso lhe atrasa.

Um soldado apareceu

Com a cara de quem quer

Dizer que se ofereceu

Só pra ver uma mulher

Depois que a mulher cedeu

Escolheu uma qualquer.

Foi assim desfigurando

Tudo aquilo que eu preguei

Pouco a pouco acostumado

Outras casas procurei

Acabei numa morando

Porque me acostumei.

Encontrei uma mulher

Que dizia me amar

Falei que se ela quiser

Poderia até casar

Se dinheiro ela me der

E também me sustentar.

Ela respondeu dizendo

Que sou aproveitador

Sabe que eu estou querendo

Boa vida sem labor

O que estou pretendendo

Vou pagar com muita dor.

Eu falei que poderia

Residir noutra pensão

Ele disse que eu devia

Procurar ocupação

Pois do jeito que eu queria

Não há outra solução.

Eu ouvi ela dizer

Que ali foi obrigada

Não sentiu nenhum prazer

Se sentia amargurada

Dispensou o seu lazer

Pra cumprir uma empreitada.

Fora ali para encontrar

A mulher que eu tinha visto

Feia, suja a ameaçar

Provocar algum sinistro

Ele deveria estar

Com a história no registro.

Perguntei quem era ela

Ela disse não poder

Responder porque aquela

Mulher tem muito saber

Ela tem nas coisas dela

A semente do viver.

Perguntei o que seria

A semente do viver

Ela disse que eu veria

Sem ao menos perceber

Entretanto eu poderia

Pelo menos a conhecer.

Fui falar com a mulher

Ela não me recebeu

Disse que sou um qualquer

Nada quer do que é meu

Se acaso algo eu tiver

Dar pra quem me recebeu.

Eu fiquei ali parado

Sem saber o que fazer

Me senti sendo amparado

Pela força do dever

Que me disse que ao lado

Havia alguém a sofrer.

Eu bati naquela porta

Veio alguém me atender

Dizendo estar quase morta

Nada tinha pra comer

Percebi que ela suporta

A dor por não ter querer.

Eu lhe disse: vem comigo

E também com a primeira

Para todas dei abrigo

Cuidei delas a vida inteira

Não corri nenhum perigo

Foram boas companheiras

Renato Lima
Enviado por Renato Lima em 25/06/2016
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