Maõs que rezam.
Mãos que rezam confiantes
Num milagre da justiça
Pedem que por uns instantes
Se livrem da má cobiça
Mas se tornam intolerantes
Quando são postas na liça.
São levadas ao desespero
Pelas mágoas que carregam
Agem pelo destempero
Que na prece descarregam
Trazem na alma o vespeiro
Dos que querem e nunca deram.
Deixam sombras no caminho
Que um dia vão limpar
Preferem seguir sozinhas
Pra ninguém mais ajudar
A coroa de espinho
Elas querem suportar.
Mãos que pregaram na cruz
O irmão crucificado
Recusaram olhar a luz
Preferem deixar marcado
O caminho que as conduz
Ao deserto do pecado.
Mãos que dirigem a prece
São as que pregam saber
Fazer o que Deus agradece
E também podem fazer
O que o demônio obedece
Mesmo se não entender.
Mãos que usam o instrumento
De trabalho pra ferir
Que prepara o argumento
Por não ter aonde ir
Perdem o discernimento
Do momento de partir.
Mãos que vão ao infinito
Falsos milagres pregando
Acham que fazem bonito
Passear se confessando
Escolheram o sambenito
Que estavam procurando.
Mãos que fazem caridade
Pra pedir a recompensa
São capazes de maldade
De palavras de ofensa
Fazem a infelicidade
Dizendo que não compensa.
Mãos que rezam ao Criador
Nos momentos de agonia
Em geral prometem amor
Mas cometem covardia
Do jardim arrancam a flor
Que Jesus plantou um dia.
Mãos que trouxeram ao mundo
Outras vidas pra viver
Esqueceram o submundo
Onde estavam a padecer
Hoje olham para o fundo
Da vida que vão viver.
Mãos que sabem saber nada
Mas que dão tudo de si
São as mãos abençoadas
Que na miséria sorri
Geralmente abnegadas
Só conhecem o bem servir.
Mãos que pregam a sabatina
Na muralha da igreja
Pode usar ou não batina
Mas mantém dura peleja
Sabe que la na cantina
Há alguém que Deus deseja.
Mãos que sabem cultuar
O milagre da alegria
Podem estar noutro lugar
Mas mostram a sabedoria
Se desculpam se falhar
Mas desprezam a anarquia.
Mãos que sabem que um dia
Voltarão ao pó da terra
Mas praticam a ousadia
De pregar amor na guerra
Vão pregar com energia
Pra mostrar que Deus não erra.
Mãos que dizem saber tudo
Com total imprevisão
São carentes de estudo
Falta até educação
Poderão servir de escudo
Pra quem luta sem razão.
São as mãos que fazem mal
As que tiram mais proveito
Acumulam um capital
Recheado de defeito
Para no dia fatal
Poder ver todo o mal feito.
Jesus não ousou falar
Que as mãos são impotentes
Quando ia abençoar
Dizia para os presentes
Minha paz posso lhes dar
Mas não fiquem impacientes.
Mãos que trazem mil defeitos
Pra na terra progredir
Aqui todas são aceitas
Ninguém pensa em discutir
Um dia serão perfeitas
Para amor poderem unir.