Versos de sarapatel

Versos de sarapatel

Traga cá minha buchada

Depois quero um sarapatel

Pois enquanto empalito os dentes

Vou tecendo o meu cordel

Bordando verso por verso

Da ponta ao fim da peste

Desenhando o meu lindo nordeste!

Se não tiver buchada

Pode servir um bom cuscuz

Com leite, nata e piaba

Café feito nessa hora de Jesus

Pois a partir de agora falo

Em versos cabra da peste

Do meu amado nordeste

Essa terra toda abençoada

De caatinga, comadre e pipa,

Estas enfeitando o céu

Enquanto aquelas enfeitam a vida

Brotada na ponta da língua

Do olho cabra da peste

Dos fuxicos do Nordeste

Aqui também tem panelada

Feita das tripas do bode

Porque só come quem pode

Bem mais que o destino

Essa iguaria tem tino

De encabrestar cabra da peste

Nascido nas brenhas do Nordeste

Se estou com tosse

Quero logo lambedor:

Mel, água, folhas da malva

Pelas mãos do curador

Uma reza bem braba

Que expulsa espírito da peste

Feita somente aqui no nordeste

Terra de milho e feijão

Jerimum, melancia e avoete

Carne seca, chifre e cachaça

Pavio, quartinha e Lampião

Jararaca, Curisco e Colchete

Cangaceiro tem como peste

Neste nordeste tão brasileiro

Alegria por aqui se encontra

Nos dias de envernada

De longe se ver a criançada

Correndo na terra molhada

Felizes que nem pinto ciscando

Uma algazarra da peste

Vista aqui no meu nordeste

Nordeste de padre Ciço

Luís Gonzaga e dos Ramalhos

Alceu, Gil, Sivuca, Nando cordel

Geraldo, Marinês e tanta gente

Que não cabe aqui dizer

Tanta peste boa pra valer

Nesse nordeste tão decente

E se não tem a buchada

Pois que me traga uma tripa

Tou aqui em desespero

Com a boca que só saliva

Querendo dizer pr'essa gente

No meu verso já quarado:

Tenho orgulho, cabra da peste

De ser, de origem, daqui do Nordeste!

Marcus Vinicius