A voz da consciencia.
Pra cumprir obrigação
Fiz um pacto com Deus
De ajudar o meu irmão
E de tê-lo entre os meus
Mas caí na tentação
Ao progresso dei adeus.
Fracassei no meu trabalho
Nada fiz pra melhorar
No meu lar só atrapalho
Nada faço pra mudar
Ganho a vida no baralho
Não procuro me acertar.
Esqueci meu juramento
Desprezei quem me amou
Insisti no julgamento
Sobre quem me ajudou
Sufoquei meu sentimento
E por isto aqui estou.
Eu caminho em má estrada
Enfrentando o desatino
Da mulher fiz empregada
Neguei pão ao meu menino
Por ter vida atrapalhada
Ponho a culpa no destino.
Ao ver a encruzilhada
Que na vida todos têm
Simplesmente não fiz nada
Neguei ajudar alguém
Caminhei em disparada
Para não ouvir ninguém.
Dei um passo para trás
Quando vi a ribanceira
Que cai quem só o mal faz
Ou pratica bandalheira
Quem não procurou a paz
Ou tem vida desordeira.
Nessa hora então ouvi
Uma voz a me falar
Se quiser sair daqui
É melhor se concertar
Porque o que vê aqui
Você poderá usar.
Eu pedi-lhe permissão
Pra sentar pra lhe ouvir
Ela disse meu irmão
Em que posso lhe servir?
Eu quase caí no chão
Vendo nela o meu sentir.
Eu lhe disse amargamente
Sou alguém na contramão
Que estava descontente
Preso noutra dimensão
E estava simplesmente
Sozinho e sem direção.
Ela disse: meu amigo
O que você fez para ti
É o que leva consigo
E escolheu para si
Se quiser venha comigo
Pois o seu pedido ouvi.
Eu fiquei sem entender
Como pude ser ouvido
Se pensei isso fazer
Porém fiquei inibido
E ela veio atender
O meu desejo escondido.
Novamente eu fui pedir
Para ela me ajudar
A entender meu sentir
Mesmo sem nisso falar
Ela então veio me ouvir
Disse pra tudo eu pensar.
Eu tentei esmiuçar
Todo aquele sentimento
Ela ali a me escutar
Ouvindo o triste lamento
Eu então quis perguntar
O porquê do sofrimento.
Ela disse que a desdita
Foi me dada de presente
Porque numa noite, aflita,
Deixei a mulher doente
Sem ter nada na marmita
E fui jogar calmamente.
Foi aí que me lembrei
Da minha triste andança
Muito tempo eu meditei
E perdi a esperança
De ganhar o que não dei
E só receber vingança.
Então ouvi minha voz
Me dizendo que eu fazia
De mim mesmo o meu algoz
Entretanto eu deveria
Procura minhas avós
Que a elas alegraria.
Disse-me que eu falhava
Não cumprindo o meu dever
Porém caro eu não pagava
Apesar de merecer
Era o preço que eu cobrava
Pelo meu mau proceder.
E ouvi a minha voz
Dizer que não sou benquisto
E apesar de ser atroz
E não merecer um visto
Ela iria à minha foz
Para olhar o meu registro.
Foi assim que descobri
Que no mau procedimento
A voz que eu sempre ouvi
Que me dava ensinamento
Era a voz que tinha em si
O meu próprio pensamento.