Os deuses contra Dido e Enéas
Mediterrâneo, meu mar!
Correntezas aos oceanos
Testemunha a história
Do bom guerreiro troiano
Que enamorou a fenícia
A rainha da províncias
A mais bela dos humanos
Enéas, o derrotado
Na mais formosa cidade
Em guerra que destruíra
Coragem, paixão, vaidades
No mar seguirá sem rumo
Só no horizonte há prumo
Findou-se Tróia, saudades!
Não insista guerrear
Já cumpriu tua missão
Teu destino é ser errante
Até outra região
Onde vingará um império
De todos o mais valério
Agora já é belo varão
O maior dos mares o aceita
Será o teu grande guia
Diferente de Odisseu
Que apostou na utopia
Ao desafiar Poseidon
Perdeu o lugar no Odeon
Castigo de tua heresia
Está na Itália teu destino
Teus herdeiros, tua glória
Sobreviveu contra Aquiles
É tua maior vitória
Remo a remo no mar grande
Siga bem Enéas, debande!
A origem de tua história
Em Cartago boa acolhida
Generosa anfitriã
Bom banquete aos troianos
Em grande festa pagã
Dido parece irreal
Gloriosa deusa mortal!
Ofusca a luz da manhã!
Será esta moça imortal?
Por tão ímpar perfeição
Olhos negros reluzentes
Negros cachos alcançam o chão
Se as deusas já a conhecem
Certamente se enfurecem
Por inveja e obsessão
É paixão imediata
Os olhares dizem tudo
Elogios são trocados
Pelos corações tesudos
Não desperdicem a chance
De viver lindo romance
Se beijem os lábios carnudos
Noites calmas se enlouquecem
Com tão belas silhuetas
Os namorados são vibrantes
Quente encontro dos gametas
Estremecem os pilares
Tal qual Afrodite e Ares
Lindos, mancebo e ninfeta!
Amantes apaixonados
Consumada relação
Ira forte o ego dos Deuses
Não aceitarão traição
Hermes alerta o troiano:
— Zeus o quer pra outro plano
Alinhe já tua embarcação
Não ouse afrontar o Olimpo
Nem tua mentora Afrodite
São eles teus salvadores
Não aceitarão desquite
Diga adeus a tua mortal
Não podem ser um casal
A ti espera outra elite!
No horizonte vai-se Enéas
Com coração fraturado
Calculado teu destino
Construir vivaz legado
Deuses são impiedosos
Por impérios são vaidosos
Orgulho imaculado
Olhos tristes lacrimejam
Pela princesa mais bela
Cartago se distancia
Às vistas da caravela
Deus Éolo inflama o vento
Quer pressa ao barco lento
Içadas todas as velas
Desencantada rainha
O fôlego sufocado
Que tragédia regeu Eros
Forjou coração magoado
Com flecha reta e certeira
Paixão é dor lisonjeira
Só cura a tempo passado
Mas Dido se desespera
À mão abraça um punhal
Agradece aos maus Deuses
A virtude de ser mortal
No mesmo peito atingido
Por seta do deus Cupido
Estanca seu doce mal
Não morra cartaginesa!
Por ti lamento agora
Desejoso por teus lábios
Tê-la aos braços na aurora
Não respire agonizando
Meu pobre verso chorando
Vê-la em triste e finda hora
Ao longe sentiu o troiano
O amargor de tua morte
Teu peito sentiu o vazio
Na fisgada dura e forte
Nem mesmo o jovem deus
Com todos os dardos teus
Alcançaria melhor sorte
O sacrifício de Dido
Tornou-se forte lembrança
A escolha de Enéas
Garantiu a grande herança
Contos de gregos, troianos
Cartagineses, romanos
Que encantam nossas crianças!
Grande Lago, Mediterrâneo
Palco de grandes eventos
Oriente e Ocidente
O disputam tento a tento
Suas águas e suas paixões
Seus conflitos e emoções
Espalham-se aos quatro ventos!