O APITO DO TREM

Porto-velhense que sou

Vejo com certa tristeza

O acervo da ferrovia

De tanta história e riqueza

Padecer abandonado,

Destruído, enferrujado

Nos braços da natureza.

Uma baita malvadeza

É deixar locomotivas

Lá no pátio do complexo

Paradinhas, inativas

E o pior: muitas estão

Junto com peça e vagão

Da mata sendo cativas.

Deve haver alternativas

Para fazer o resgate

Ir além de projeções,

Boas ideias, debate

O silêncio desse apito

Arrepiante e bonito

Para o povo é disparate.

É preciso que se trate

Com alguma ação concreta

Da restauração sonhada

Ainda que não completa

De percursos nessa linha

Onde a composição vinha

De passageiros repleta.

Uma geração seleta

Ainda fez a viagem

Na Madeira-Mamoré

Rasgando a rota selvagem

Feita em saga de aventura

Marcada pela mistura

De persistência e coragem.

O barulho da engrenagem

Cessou, não temos assim

Ligação de Porto Velho

Até Guajará-Mirim

Pela estrada de metal

Hoje entregue ao matagal

Lutando contra seu fim.

Não acharia ruim

Se ocorresse novamente

Aquele passeio curto

Que fiz um dia contente

Com destino a Santo Antônio

Outro grande patrimônio

Dessa valorosa gente.

Por sinal, é diferente

O cenário agora impresso

Naquela localidade

Onde tinha o trem acesso:

Nosso querido Madeira

Perdeu sua cachoeira

Pra hidrelétrica, o progresso.

Neste pequeno regresso

Às memórias de criança

Vejo fagulhas voando

Nos céus da doce lembrança

Para entrar pela janela

E deixo a saudade dela

Abraçar minha esperança!