A DOR DA AMAZÔNIA
O Brasil inteiro vê
Amazônia desabando
A pobre mata implorando
Pra não virar massapê
Mesma notícia se lê
Na gazeta todo dia
A vastidão da sangria
No nosso pulmão do mundo
Em segundo em segundo
Passando por agonia.
Além escuta o roncar
De motosserra na mata
A seguir um carro cata
A tora pra transportar
Para se comerciar
Outra carga de madeira
Lá e cá semana inteira
É aquela circulação
No vaivém de caminhão
No contorno da fronteira.
O repórter da tevê
Exibe no seu canal
A madeireira ilegal
Levada pro ateliê
Para todo mundo vê
Ali se faz conspirata
Com aquele magnata
Sem muita preocupação
Naquele aperto de mão
Firma-se a negociata.
Ainda naquele mês
Serra volta a ressoar
Mais caminhão trafegar
Aliás, um, dois e três
Na rota do seu freguês
Com uma nova encomenda
De uma tenda a outra tenda
O veículo vai em frente
Bem nas barbas dum agente
Protocola sua venda.
Cobra rasteja pro rio
Pra não ser esturricada
Em voo a passarinhada
Sem nem sequer dar um pio
O tigre fica arredio
Em busca de moradia
Ai, meu Deus que covardia!
Tá fazendo esse sicrano
Banindo o nosso bichano
Do recinto onde vivia.
Mãe terra geme de dor
Vendo a filha padecendo
E com ela vai sofrendo
Também o mesmo clamor
Mais uma vez o infrator
Levanta ali seu troféu
Abatido fica o céu
Testemunhando o que vê
Aquele florido ipê
Nas chamas do fogaréu.
Que se faz com a floresta
É de cortar coração
Canal de televisão
Exibia um bate-testa
Apresentando uma fresta
No seu solo enfumaçado
E de sangue misturado
Dum animal abatido
Por aquele pervertido
Tão mal-intencionado.
Tal pássaro emudeceu
Pois não soube mais cantar
Foi obrigado a deixar
Aquele cantinho seu
Até o pica-pau perdeu
Sua árvore preferida
Na qual tinha a acolhida
Pro filhote e a amada
Encontrou-a retalhada
Na terra desfalecida.
O nosso planeta terra
Pressente o efeito estufa
E aquela rosa tufa
No alto daquela serra
O agente nessa guerra
É o oportuno fulano
Que é mais um líder tirano
Que pensa só em lucrar
Nada faz para mudar
O seu jeito de mundano.
Cada árvore derrubada
Na nossa selva Amazônica
É mais uma bomba atômica
No planeta disparada
A fauna fica abalada
Do feito desse atentado
Índio é desapropriado
Para o branco se alojar
Em suas terras lavrar
O ouro contrabandeado.
É de muita e longa data
Nossa selva vem grunhindo
Cordialmente pedindo
Pra salvá-la da desmata
Igualzinho um vira-lata
Latindo pelos confins
Apelando aos mandarins
Ali do Itamarati
Também para o Jabuti
E lá dos Tupiniquins.
O cenário é preocupante
Pelo que está sucedendo
O mundo inteiro está vendo
Devastação alarmante
E ninguém até o instante
No condado brasileiro
Se pronunciou primeiro
Buscando uma solução
Fica fazendo é sermão
Para cacique estrangeiro.
A floresta assim derrete
Na boca dessa fornalha
O nosso IBAMA espalha
Por todo o país manchete
Uma nota que promete
Combater a transgressão
Sem o direito à caução
Pois quem a lei infringir
Na cadeia vai sentir
O peso dessa agressão.
É fácil na teoria
Na prática é que são elas
Pois são somente balelas
Dessa politicaria
A qualquer hora do dia
A nossa selva é invadida
Por gente má e homicida
Aí a pobre floresta
Vira um peru de festa
Naquela mesa é servida.
Cadê os nossos senhores
Deputados estaduais?
Além disso os federais
Tais amigos senadores
Prefeitos, governadores,
Nossos líderes civis
O povo deste país
Salve a selva valiosa
Desse boto cor-de-rosa
Amazônia Flor-de-lis.
Amazônia e daí?
Se o socorro não vier?
Que será de minha mulher
Sem seu gostoso açaí?
Muita gente nem aí
Com a sua situação
Madeira vira carvão
Para assar essa picanha
Assim completa a barganha
Para outra conspiração.
O rugido da floresta
Afora já ribombou
Mas ainda não se indagou
O que ela tanto contesta
Só uma voz se manifesta
À sua sobrevivência
É o brado de consciência
Do seu ser interior
Impetrando, por favor
Preservar sua existência.
Muito além vai expressando
Pra todos o seu apelo
Mesmo diante atropelo
A atenção vai chamando
Para o mundo vai mostrando
As gigantescas crateras
Efeito das termosferas
Causadas por doidivanas
Sem caráter e inumanas
Semelhantes bestas-feras.
Amazônia em asfixia
Em meio a tanta carcaça
Além do pau-de-fumaça
Ardendo em carvoaria
Segue a criminologia
Perante aos olhos do povo
Ano velho e ano-novo
Reza a mesma ladainha
A mata está vermelhinha
No tom de gema-de-ovo.
Essa mata gigantesca
Há tempos agonizando
Com os homens massacrando
Nossa única selva fresca
Dessa ganância grotesca
Já chega de tanta festa
Pois agora só nos resta
Acabar essa folia
Amanhã será outro dia
E adeus nossa floresta!
Se a gente continuar
Nossa Amazônia abolindo
É claro que vai se abrindo
Jazigo pra se enterrar
Muito não vai demorar
Para tudo acontecer
Aliás, eu quero ver
O povo pedindo ajuda
Será um deus nos acuda
Sem ter para onde correr.
A floresta está esgotada
Sofrer tantas agressões
E de ouvir vários sermões
Muita conversa fiada
Já desperta retalhada
Em pleno brilho do dia
Num galpão de serraria
O planeta inteiro vê
Num boletim de tevê
Tamanha selvageria.
Males serão reparados
Revides virão dos céus
Um por um todos os réus
Serão logo condenados
E os troféus conquistados
Nunca mais serão erguidos
Ficaram apodrecidos
Por força da lei maior
O mal só gera o pior
Assim serão destruídos.
Do vento, céu, mar e terra
Todo lembrete foi dado
Ninguém teve o cuidado
Daquela flor lá na serra
Agora sua alma berra
Ainda ouvindo o ressoado
Do seu serrote afiado
Em cada árvore abatida
Nasce em si uma ferida
Por todo mal praticado.
FIM.