A briga entre Rui Barbosa e Zé Limeira

No tempo em que Rui Barbosa

Vendia manga na feira

Se encontrou com Zé Limeira

Na feira de Venturosa

Tiveram um dedo de prosa

Comendo pão com garapa

Depois saíram no tapa

Por causa de um atrito

De repente ouviu-se um grito

Alguém gritou - Olha a capa!

O povo achou que era: A faca

E formou-se a confusão

Barbosa voou pro chão

Debaixo d'uma barraca

Que nem uma jararaca

Quando a bicha dá o bote

Bateu com a testa num pote

Onde logo inchou um galo

Limeira pra provocá-lo

Ali mesmo fez um mote

“Galo canta no terreiro

E na testa de Barbosa”.

Pegando uma manga rosa

Que tava no tabuleiro

Barbosa atirou, certeiro

Na testa de Zé Limeira

Que sentiu uma tonteira

E com a cara lambuzada

Pegou uma manga espada

E acertou-lhe a moleira

Barbosa cambaleando

Atirou-lhe o tabuleiro

Nem se lembrou do dinheiro

Que, nele, tava guardando

Com a grana se espalhando

O povo se atirou nela

Que nem num quebra panela

Em festa de São João

Foi a maior confusão

O sangue deu na canela

Era uns pegando dinheiro

E outros pegando manga

Uns saíram só de tanga

De dedada no papeiro

E quem se atirou primeiro

Não conseguiu levantar

Com tanta gente a rolar

Por cima e tudo que é lado

Saiu cara desmaiado

E um bocado a sangrar

Um galego avermelhado

Tava vendendo galinha

Quando viu uma moedinha

Em um cantinho afastado

Correu pra lá apressado

Pra pegar a tal moeda

Mas alguém gritou - Arreda!

E empurrou o sujeito

Que ao cair de mau jeito

Matou um galo na queda

Com a peleja encerrada

O cenário era de guerra

Estava tudo por terra

Muita barraca quebrada

Tudo que é fruta espalhada

Galinha e bode correndo

E um porco se lambendo

Com um caroço de manga

Mais adiante uma franga

Num caçuá se escondendo

Rui Barbosa ao perceber

No final da confusão

Que ficou sem um tostão

E sem manga pra vender

Resolveu aparecer

Pondo a culpa em Zé Limeira

Que disse, na brincadeira

Pra ele vender caroço

Barbosa foi no pescoço

Do poeta de Teixeira

A briga recomeçou

Com os dois se engalfinhando

O povo foi se juntando

É uma roda formou

Lá no meio o pau cantou

Sem ninguém ir apartar

Começaram a apostar

Quem seria o vencedor

Mas, sem um mediador

Para as apostar guardar

Depois de horas de briga

Limeira falou, cansado

Barbosa, seu desgraçado

Embusteiro de uma figa

Quero que você me diga

Por que toda essa pirraça?

Todo mundo achando graça

Porque estamos brigando

Estão até apostando

Pra ver a nossa desgraça

Você foi quem provocou

Dizendo que eu levei gaia

_ Eu falei Águia de Haia

Na hora você surtou

Me empurrou e me xingou

Então, também revidei

Outra hora eu me exaltei

Quando me chamou de surdo

_ Poeta do Absurdo

Foi o que pronunciei

Então, foi mal entendido

Vamos dar por encerrado

Mas aqui há algo errado

Para ser esclarecido

Aquele suco bebido

Tinha um gosto diferente

Eu me lembro, vagamente

De ter ouvido falar

Que a garapa do lugar

Tem mistura de aguardente

Limeira, se foi trapaça

Tá resolvido o mistério

O que nos tirou do sério

Foi o suco com cachaça

A culpa da arruaça

É toda do barraqueiro

Vou lhe cobrar o dinheiro

Do apurado da feira

E, de você, Zé Limeira

Quero outro tabuleiro

O acordo foi selado

Tudo em paz e harmonia

Mas, então, uma gritaria

Começou ali ao lado

Um cara mal encarado

Começou esbravejar

Pra briga continuar

Até ter um vencedor

Senão cada apostador

Queria o prêmio ganhar

Barbosa, apaziguador

Cometeu a grande asneira

De declarar Zé Limeira

Como sendo o vencedor

Quase todo apostador

Tinha apostado em Barbosa

Então acabou a prosa

E ninguém mais se entendeu

Novamente o pau comeu

Foi uma briga horrorosa

Era grande a gritaria

Com o cacete comendo

Limeira foi se escondendo

No meio de quem fugia

Barbosa, ninguém mais via

Tava chegando em Pesqueira

Só lembrou de Zé Limeira

Ao me contar essa estória

Que me retorna à memória

Toda vez que eu vou na feira

Edmilton Torres

Edmilton Torres
Enviado por Edmilton Torres em 26/02/2018
Reeditado em 02/03/2018
Código do texto: T6265300
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2018. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.