HISTÓRIAS DO CANGAÇO: LÍDIA, A MAIS BELA CANGACEIRA

1

O cangaço tem histórias

Escabrosas e engraçadas.

Há discussões sobre o tema,

Às vezes acaloradas.

Para alguns, foi banditismo,

Outros viam heroísmo

Nas ações ali passadas.

2

Dentre as tramas abordadas,

Existe a da cangaceira

Que foi levada bem jovem

Pro meio da cabroeira.

Dizem que menor de idade

E contra sua vontade

Virou de um deles parceira.

3

Era Lídia a companheira

De Zé Baiano, elemento

Conhecido por ser bruto,

Sanguinário e violento.

Após conhecer a bela,

Quis ser o marido dela,

Tomado de encantamento.

4

Verdadeiro monumento,

A garota era formosa:

Olhos e cabelos negros,

Rosto lindo, graciosa.

Tinha um corpo escultural,

Traços fora do normal

A baiana preciosa.

5

A figura perigosa

De Zé Baiano, contudo,

Botava medo em quem via,

Sendo feioso e sisudo,

Mas ficava bem mansinho,

Cheio de amor e carinho,

Com a Lídia, seu veludo.

6

Eis que um fato cabeludo

Resultou numa desgraça.

A linda moça, charmosa,

Com outro foi fazer graça.

Bem-te-vi, mais 'aprumado'

Que o Zé Baiano falado

Conquistou a morenaça.

7

O destino fez pirraça

Com aquele mulherão:

Ficava com Bem-te-vi

Em uma ardente paixão,

Na ausência de seu marido,

Até que o caso mantido

Foi alvo de delação.

8

Veio à tona a traição

Porque, malandro, Coqueiro,

Sabendo das escapadas,

Deu uma de fofoqueiro.

Querendo a Lídia, abelhudo,

Ameaçou contar tudo

Ao comparsa bandoleiro.

9

Disse, então, o cangaceiro:

"Oh, Lídia, fique comigo,

Senão, eu conto essa história

Ao Baiano, meu amigo.

Se não se entregar a mim,

Vai ser cruel o seu fim

E doloroso o castigo."

10

Ela respondeu: "não ligo,

Se for pra morrer, eu morro,

Contigo não vou deitar,

Seu indecente, cachorro!

Não vou fazer essa troca,

Pode fazer a fofoca,

Não vou querer teu socorro"

11

Depois de ouvir tal esporro,

Ele fez o prometido

E contou a Zé Baiano

O que tinha acontecido.

Este duvidou ainda

Que sua mulher tão linda

Tinha mesmo se perdido.

12

Pra surpresa do traído,

Ela confirmou o fato.

Lampião, chefe do bando

Ordenou seu cabra, o Gato:

"Mate esse Coqueiro aqui,

Também mate Bem-te-vi.

É desse jeito que trato!"

13

Coqueiro, de imediato,

Tombou morto, sem defesa.

Bem-te-vi fugiu ligeiro,

Deu no pé, com esperteza.

Quanto a Lídia, Lampião

Não se envolveu na questão,

Demonstrou certa frieza.

14

Em Zé Baiano, a rudeza

Misturou-se à raiva, à dor.

Não sabia o que fazer

Com a Lídia, seu amor.

Viu-se preso num dilema,

Numa indecisão extrema,

O valente matador.

15

Resolveu o cabra por

Numa árvore amarrada

Pensando como devia

Proceder com sua amada.

A noite inteira, portanto,

A Lídia ficou enquanto

Matutava o camarada.

16

Com a mente perturbada,

Nem dormiu o Zé Baiano.

Estava fragilizado,

Não tinha pra aquilo um plano.

Quando amanheceu o dia,

Uma ideia ele teria

Pra vingar aquele engano.

17

Mostrando um rancor insano,

Desamarrou a consorte,

Deu pauladas sem piedade

Aquele sujeito forte.

A mais bela do cangaço,

Devido ao dito embaraço,

Encontrou a sua morte.

18

Depois da cena, sem norte,

Numa cova rasa arruma

O corpo desfalecido

Da mulher, caindo, em suma,

Nos abismos da tristeza

E chorou, pois foi dureza,

É normal que se presuma.

19

Não há imagem alguma

Da famosa senhorita.

Tudo é fruto de relatos,

De coisa que está escrita.

Era mesmo uma beldade,

Uma musa de verdade,

Bem torneada, bonita.

20

Conforme aqui deixo dita,

Assim se deu a passagem

De uma musa no cangaço,

Comentada personagem

Que acabou acompanhando

Por um tempo aquele bando

Num meio rude e selvagem.