Dia Dos Namorados (Cordel)

Ele se apaixonou de primeira,

Foi amor à primeira cantada,

Ela já levava pela vez terceira,

Mas gostou da isca jogada,

Decidiu ver onde iria parar,

Ele sentiu o coração disparar,

Feliz pela tentativa acertada.

E tudo começou como fábula,

Um conto de fadas bem contado,

Uma gata muito borralheira

E um príncipe pouco encantado

Ela com um carro cor de abóbora

Estacionado do lado de fora,

Ele um bilhete no bolso enfiado.

Já estava para virar meia noite

E, se um sapatinho ela perdesse,

Teria a ele grudado no seu pé,

Achando-a por onde se metesse,

Tirando o seu sono mais profundo,

Remexendo todo o seu mundo,

Traindo a confiança que lhe oferecesse.

Mas toda história tem uma bruxa:

Uma irmã, uma tia, uma madrasta,

Uma pessoa portando uma vassoura,

Um nariz que com o rosto se contrasta,

Um espelho a responder suas questões,

Uma maçã a suplementar as refeições,

Um mistério que pela vida se arrasta.

E nesta não poderia ser diferente

Quando a mãe lhe chamou a atenção

Perguntando se ele era bom rapaz,

Pois pelo jeito não lhe parecia não

Já que de trabalho parecia não gostar

E ele estava todos os dia a folgar,

Comportando-se como um malandrão.

Ela ficou insatisfeita com o comentário,

Respondeu: “meu amor é muito lindo,

Cura dele até a sua vagabundice!”

A mãe não segurou, acabou rindo,

Ela ficou séria, fez cara feia e disse:

“Você tem inveja, pois amor nunca visse”,

Deu as costas, bateu o pé e foi saindo.

Ela correu aos braços do seu príncipe,

Contou-lhe a incompreensão sofrida,

Ele a abraçou e lhe jurou amor eterno,

Ela lhe convidou a juntar suas vidas,

Ele sentiu estremecer seu órgão interno,

Pensou: “o casamento parece um inferno”,

Ele nem um pouco, estava como ela envolvida.

O príncipe de repente se tornou ogro,

O mocinho se transformou em bandido,

O super herói virou super vilão,

Nesse instante o carinho foi banido,

Do seu coração foi exterminado,

Ele deixara de estar enamorado,

A paixão para sempre havia sumido.

Mas por não ter onde cair morto,

O Adão aceitou da Eva a maçã

E aconteceu o tal casamento

Num dia de inverno pela manhã,

As alianças eles enfim trocaram,

Os dois pombinhos se beijaram

E fizeram lua de mel até o amanhã.

O dia após trouxe um sol brilhante,

Mas o médico acordou monstruoso,

O gentil Jekill agora era o feio Hyde,

O moço bonito virou marido horroroso,

Ele quis subjugar a livre mocinha,

Gritando: “Tu tens que andar na linha,

Senão o coro vai comer gostoso”.

Ela percebeu em que barca entrara,

O Titanic já estava afundando,

Tratou de procurar um salva vidas,

Mas os botes já estavam se acabando,

Que se abrisse o mar imediatamente,

Pois a escravidão seria permanente

E nem um Moisés acabaria achando.

Ela buscou em vão suas economias,

Pois ele tudo já havia devorado,

Com a senha dela, esvaziou tudo,

Havia bebido, cheirado e fumado,

Gastara com as malvadas fadinhas,

Em orgias misturadas à farinha,

E a ela só restou um sonho frustrado.

E no décimo segundo dia de junho,

Comemorariam um ano de relação,

Quando ela descobriu sua gravidez,

Fruto de uma complicada união,

O desespero bateu na sua alma,

Mas viu que deveria ter calma,

Pois nada adiantaria a exasperação.

Ela não achou outra solução

A não ser voltar pra casa de mainha,

Como Doroty, precisaria de um mágico,

Para lhe dar sucesso nessa fugidinha

E não despertar a fúria de seu algoz,

Necessitava chegar à terra de Oz

E embarcar num furacão, a coitadinha.

E com arrependimento de montão

Voltou a filha pródiga à casa dos pais,

Mãe e filha se abraçaram no perdão,

Prometendo não se deixarem jamais

Fazendo grande festa de reconciliação,

Com banquete, regado de vinho, canção,

Lágrimas e conversas nada formais.

Um clima de medo ainda no ar,

Pois ela não voltava ali sozinha,

Um bebê se formava em seu ventre,

Criança que de sua mãe era netinha,

Ela temeu o fim da confraternização

Quando recebesse da mãe a rejeição,

Dela própria e daquela doce alminha.

Mas a mãe não precisa de palavras,

Quando sente o que ocorre no peito,

Disse apenas: “Filha, não se preocupe,

Pois para tudo nesta vida tem um jeito,

Você é bem vinda com o pequeno ser,

Lugar aqui vocês vão sempre ter,

Com comida, guarida e muito respeito”.

Neste conto um tanto mal fadado,

Também tinha que ter um final feliz,

Não para agradar gregos e troianos,

Mas para revelar a força motriz

De corações que de verdade amam

E paixões que na realidade enganam,

Pois nesta matéria cada um é aprendiz.

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