CHICO PAPA-DEFUNTO E SUA MACABRA HISTÓRIA!!!

Que existe gente pra tudo

Disso, a muito eu já sabia,

Pois desde eu muito pequeno

Que de mamãe eu ouvia

Essa frase ressoar,

Pra que possa comprovar

Eu vou entrar no assunto

De uma forma bem notória

Pra relatar a história

De Chico Papa-Defunto.

Que o fim do ciclo da vida

É a morte, isso já se sabe,

Descrever sobre esse tema

Acho que agora me cabe

Pois vou falar de um sujeito

Não sei se por um defeito

Ou por um fado da sorte

Que essa estranha criatura

Gostava de sepultura

E de conviver com a morte.

Era Chico de Tereza

A pessoa aqui citada

Que não perdia um velório

De jeito nenhum! Por nada,

Pois só vivia assuntando

Pela funerária, e quando,

Ali chegavam com um morto

Depressa pensava assim

Maravilha! Até que enfim,

Meu barco ancorou no porto.

Procurava algum parente

Do morto, só pra saber,

O endereço em que ia

O velório acontecer,

E quando ficava a par

Ia logo se arrumar,

Vestia um surrado terno

E com ar de combalido

Levava pra o falecido

Base, pra o descanso eterno.

E junto aos familiares

Chorava a perda e as dores

E das pessoas pegava

Logo, as coroas de flores,

E agradecia a elas,

Depois acendia as velas

Que estavam nos castiçais

E nesse trabalho intenso

Logo acendia o incenso

E ainda fazia bem mais.

Servia algum cafezinho

Trazia água pra o povo

Opinava, concordava,

Divergia, dava aprovo,

E com todo esse denodo

Trabalhava o tempo todo

Dia e noite sem parar

Tristonho, mas satisfeito,

Agindo bem mais perfeito

Que qualquer familiar.

Um terço Chico rezava

Ou fazia outra oração

Lia algum trecho da bíblia

Conforme a religião,

Consolava quem chorasse

E se alguém lhe perguntasse

Qualquer coisa, respondia,

A sua luta era intensa

Não sei se era uma doença

Ou somente uma mania.

E quando chegava a hora

Da despedida final

Era aquele desespero

Comum, de um funeral,

Chico abria o breviário

E ajudava o vigário

Naquela encomendação

E quando a reza findava

Depressa ele colocava

Logo a tampa no caixão.

A partir desse momento

Organizava o cortejo

Que seguia lentamente

Nas ruas do lugarejo,

E Chico ia segurando

No caixão e comandando

Aquele evento funéreo

Era o primeiro a entrar

E o derradeiro a passar

Pra fora do cemitério.

Lá dentro não se aquietava

Era aquele desespero

Abria o caixão, fechava,

Auxiliava o coveiro,

No fechamento das tumbas,

E por entre catacumbas

Passeia e não se maldiz

Seja túmulo ou cova rasa

Como que estivesse em casa

Parecia bem feliz.

E quando dali saia

Já estava anoitecendo

Ia pra casa dormia

Quando ia amanhecendo

Corria pra funerária

Porque aquela era a área

Que lhe prendia ao estorvo

Esperando que chegasse

Outro morto e começasse

A fazer tudo de novo.

E assim era a sua luta

Árdua, pesada, tirana,

Pois mortos nunca faltava

Sete dias na semana

E Chico não se cansava

Todo dia ia e voltava

Naquela triste rotina

De fazer esse desterro

Velar e cuidar de enterro

Parecia que era a sina.

Mas como tudo na vida

Tem um final certamente,

Com o nosso amigo Chico

Não seria diferente,

Sentindo-se adoentado

Ficou logo acabrunhado

Procurou um hospital

Aonde foi medicado

E ali ficou constatado

Que o caso ia ser fatal.

Ali ficou internado

Ainda por alguns dias

A cada hora aumentavam

Bem mais suas agonias,

Assim foi enfraquecendo

Definhando, esmorecendo,

E logo que anoiteceu

A morte deu-lhe os sinais

Chico não suportou mais

Num instante faleceu.

Pelo que ele praticou

Dava até pra se pensar

Que seu velório seria

Enorme, espetacular!

Foi uma decepção,

E acho que a razão

Foi o desprezo, o desdém,

Por quem só fez coisas boas,

Pois só algumas pessoas

Foram lá, quase ninguém.

Só o povo da família

Por ali compareceu

Tornando o final injusto

Por todo o empenho seu

O seu filho comovido

Totalmente enternecido

Disse assim por sua vez,

Diante a macabra cena!

Será que valeu a pena

O esforço que o meu pai fez?

Carlos Aires

05/08/2018