A TRISTE HISTÓRIA DE ZÉ LARGATIXA
Caros leitores amigos
Dei-me licença agora
Deixe eu entrar em sua vida
Contando essa triste história
Fui contar ao carroceiro
E o burrinho ainda chora.

É a história de um menino
Que nasceu de um "acidente"
Sua mãe escorregou
É o que eu sei somente
Não me pergunte os detalhes
Pois eu tenho leitor crente.

Mas fico pensando aqui
O acidente acontecendo
O homem despreocupado
Encontra a mulher correndo
Escorregam um sobre o outro
Ai Jesus, que papo horrendo.

Só sei que quando a notícia
Da gravidez espalhou
A menina ficou "louca"
E tanto remédio tomou
Mas pense num "zinho" peste
Nem citotec abortou.

Resistiu o que podia
E foi crescendo a barriga
As vizinhas fofoqueiras
Passaram a fazer intriga
Na rua todos tratavam
A moça por rapariga.

Era grande o preconceito
Com aquela pobre mocinha
Não podia mais sair
Pra passear na pracinha
Quando saia de casa
Acompanhava as vizinhas.

Numa cidade pequena
De cinco mil habitantes
Existia só um postinho
Para cuidar de gestante
Ali nasceu o menino
Mais um para o mundo errante.

Quando o menino nasceu
A mãe não quis mais saber
O pai sumiu pelo mundo
Inicou o sofrer
Do menino moribundo
Aquele pequeno ser.

Saiu a mãe do hospital
Já deixou para a adoção
Nem um nome ela o deu
Deixou como deixa um cão
Partiu daquele hospital
Igual a um furacão.

As enfermeiras então
Deram um nome a criança
José de Arimatéia
Que nasceu sem esperança
Ninguém queria adotar
Nem na mais tenra infância.

Foi mandado a um orfanato
De uma freira malvada
Cresceu até cinco anos
Sempre levando porrada
Bastava um riso mais solto
Para levar panelada.

Aos cinco anos de idade
Um casal o adotou
Era a paz que o menino
Por um instante encontrou
Mais foi só por duas semanas
E a primeira surra levou.

José de Arimatéia
Ganhou logo um apelido
Pelos colegas da rua
E ficou bem conhecido
Somente Zé Largatixa
Por ser magrelo escorrido.

Zé Largatixa crescia
E nunca ia a escola
Seus pais nem se preocupavam
Nem deixavam o jogar bola
A vida era só trabalho
E peia a qualquer hora.

Não podia vacilar
Que a porrada corria
Apanhava de manhâ
De noite e meio dia
Qualquer que fosse o vacilo
Da costa o sangue escorria.

Cresceu naquela agonia
Só conheceu violência
Quanto mais ele crescia
Mais ele levava prensa
Até que um dia pensou
Hoje acabo essa sentença.

Já tinha nesse momento
Quinze anos de idade
Mesmo com medo falou
Aos pais com grande coragem
Que ia cair no mundo
Viver em outra cidade.

Na noite que ele falou
A peia foi a maior
As costas de Largatixa
Quem olhasse tinha dó
Dizia seu pai danado
Te amarro e te dou um nó.

No outro dia cedinho
As costas ainda estava ardendo
Largatixa disse eu mato
Esses dois com um veneno
Depois disparo no mundo
Porque aqui estou morrendo.

Armou um plano maligno
Para matar os seus pais
Sair perdido no mundo
Se abraçar com o satanás
A mágoa que alimentava
Não aguentava mais.

Então na noite seguinte
Bem na hora do jantar
Serviu um suco aos dois
E sentou no seu lugar
Só esperando o veneno
Agir para os dois matar.

Então ficou assistindo
Os dois cairem ao chão
Ele não pediu socorro
Para os pais de criação
Mesmo com raiva sentiu
Chorar o seu coração.

Pois mesmo sofrendo tanto
Nas garras dos dois viventes
Foram os dois que o criaram
Aquele sobrevivente
Zé Largatixa sentiu-se
Ali a própria serpente.

Mas o mal já estava feito
Não podia voltar atrás
Saiu doido pelo mundo
Nos braços do satanás
Daquela dia em diante
Liberdade era demais.

Porém logo descobriram
O autor do tal delito
A polícia o agarrou
E deu-lhe um couro bonito
Trancaram naquela grade
O Largatixa aos gritos.

Passaram-se então três anos
Ele naquela prisão
Quando completou 18
Saiu pior que o cão
Quem entrou como assassino
Sai com diploma na mão.

Com diploma de bandido
Assassino e traficante
Zé largatixa tornou-se
Um dos homens mais errantes
Virou então matador
Cruel de forma aberrante.

Em pouco tempo Largatixa
Virou dono do pedaço
Matava quem se metesse
De besta em seu espaço
Corria na bala polícia
E vagabundo no braço.

Em pouco espaço de tempo
Sua fama correu no mundo
Se tornou sem coração
Cresceu em crime profundo
O maior que a terra viu
O mais cruel vagabundo.

Seu sonho era encontrar
A sua mãe biológica
Dar uma surra em seu pai
Buscar um pouco de lógica
Lhe consumia seu passado
De forma psicológica.

E cada vez que pensava
A lógica de sua vida
Crescia um ódio maligno
E isso lhe consumia
Então matava com gosto
E a raiva só crescia.

A fama de Largatixa
Cresceu no mundo inteiro
Então a polícia toda
Caçou o seu paradeiro
E numa tarde chuvosa
Bala correu no terreiro.

Com meio mundo de bala
O mundo escureceu
Zé largatixa atirava
Com seu fuzil não correu
Foi quando sua cabeça
Sentiu o peso de "Deus".

O mundo escureceu
As vista foram sumindo
E a cortina da morte
Abriu a ele sorrindo
Naquele esguicho de sangue
Foi Largatixa dormindo.

Dormiu o sono eterno
E entrou para a memória
Não conheceu os seus pais
E as coisas de outrora
Acabou-se o Largatixa
Sem conhecer sua História.

Tantas perguntas que tinha
Nunca foram respondidas
Não conheceu sua mãe
Não conheceu a partida
Seu pai uma grande incógnita
Não conheceu sua vida.

E aqueles que o adotaram
Só queriam o escravizar
Sugaram sua juventude
Nunca pôde estudar
Infância nunca existiu
Mal pôde se alimentar.

Aqui termino a história
Do largatixa sofrido
Que pela falta de amor
Caiu no mundo perdido
Pois o maior dos carinhos
Foi tapa no "pé" do ouvido.

Caros leitores amigos
Que pensam em ter criança
Pense muito em sua vida
Busque amor e esperança
Não coloque Largatixas
No mundo a fazer lambança.

Pois toda criança tem
Que ter amor de verdade
Não é apenas fazer
E deixar pelas cidades
Milhares de Largatixas
Fazendo muitas bobagens.
FIM...