LIVRO X REVÓLVER

Por Gecílio Souza

O maior duelo do século

De que tenho informação

É entre o livro e o revólver

Nesta tensa ocasião

Para saber qual dos dois

De fato é a solução

Para conter a maldade

Que ameaça a geração

O livro pacientemente

Receitou a educação

O revólver que não é grácil

Falou que é muito fácil

Basta matar o cidadão

O revólver deu 2 tiros

E falou estou presente

O dedo que me aciona

Nenhuma piedade sente

Todas as balas que cuspo

Matam bandidos somente

E o livro respondeu

Todo assassino é indolente

Quem se faz de justiceiro

É mau homem eticamente

A mão que vive matando

Obedece ao comando

De um espírito doente

O livro lhe respondeu

Sem levantar o volume

A distância que nos separa

Em abismo se resume

E o revólver retrucou

Este é o seu péssimo costume

De defender o bandido

Que merece virar estrume

Na tréplica o livro indagou

Você tambem não se assume

Como vetor da violência

E os conflitos da convivência

O Estado que se arrume

O livro disse ao revólver

Com humor e ironia

Você só vomita fogo

E mata da forma mais fria

Na mão do bom ou do mau

Promove a desarmonia

O revólver o ameaçou

Eu queimo essa livraria

E o livro respondeu

Sou o pai da sabedoria

Sem mim o homem é nada

E você arma despeitada

Também não existiria

O revólver se engatilhou

Esnobe, frio e bocudo

Se apontou ao livro e disse

Comigo resolve-se tudo

Nunca li uma só página

Mas odeio seu conteúdo

Você é o “olho” do cego

E empresta voz ao mudo

Quem o lê e o interpreta

Se torna ousado e sisudo

Desperta corações e almas

Diz que a bravata das armas

Não é proteção nem escudo

O livro disse ao revólver

Se ponha no seu lugar

Você causa destruição

Pois feito para matar

No entanto é tão vazio

Que precisa recarregar

E eu distribuo o saber

Sem saber algum me faltar

O revólver mirou o livro

E se eu resolver pensar?

Será trágica e triste a sorte

Dos que lucram com a morte

Com o que irão lucrar?

Pensativo disse o livro

Entendo a sua condição

Você não é o culpado

Culpada é a maldita mão

Que aciona o seu gatilho

Por ódio ou convicção

Disse a arma, sou um metal

Quisera eu ter coração

O livro lhe respondeu

A sua paz é uma ilusão

Que aos ignorantes anima

Ofende os sábios lá de cima

E instala a guerra no chão

O livro disse ao revólver

Minha bala é o argumento

O revólver retrucou

Disse ao livro eu lamento

Não se enfrenta o criminoso

Com lógica e convencimento

E o livro respondeu

Sofisma é tal pensamento

Sou o amparo da criança

Para dar-lhe entendimento

Onde a educação é precária

Quando a arma é necessária

Faltou o conhecimento

O revólver respondeu

Sou a trama da malícia

Mato na mão do bandido

Mato na mão da polícia

Até “ungidos” de Cristo

Se alegram com a notícia

E o livro protestou

Isto é apologia à sevícia

Qualquer alma que se preze

E faz uma interna perícia

Rejeita a lei da vingança

Investe na educação da criança

Previnindo a sócio-icterícia

O livro disse ao revólver

Com firmeza e autoridade

Sou eu que estou na raiz

Dos avanços da humanidade

A ciência e a tecnologia

Transformam a realidade

Você próprio é fruto disto

Mas não tem a capacidade

De fortalecer os elos

Que se formam na amizade

O revólver concordou

E ao livro cumprimentou

Não posso negar a verdade

O revólver resignado

Fez um gesto com o cano

Apenas executo ordens

Levo à cabo qualquer plano

Não importa se a tragédia

Resulte do pior engano

O livro então ponderou

Irreparável é o seu dano

Desconstrói o que é sagrado

Violenta o mais profano

Mas é um fato que o mal

Não é inerente ao metal

Reside no espírito humano

Oiliceg
Enviado por Oiliceg em 21/10/2018
Reeditado em 08/11/2018
Código do texto: T6482603
Classificação de conteúdo: seguro