SAUDADES DE IGAPORA

Nasci um dia nesta terra,

Que era de Bernardo Brito.

Foi bem lá no pé da serra,

Pois assim já estava escrito.

Eu sou filho desta Igaporã,

Que segue para o amanhã,

O velho e saudoso bonito.

Foi no dia quatro de julho,

Mil novecentos e sessenta.

Deste berço tenho orgulho,

Minha alma assim comenta.

Vou seguindo esta viagem,

Levando a minha bagagem,

Já passei até dos cinquenta.

Zeca Botafogo de Igaporã,

Zequinha lá em Paramirim,

Em Xique-Xique era o galã,

Gerente do Banco do jardim.

Já não sou o galã do passado,

Sou um cidadão em Brumado,

Poeta da Caixa e do botequim.

Sempre quis ser um cantor,

E Deus também quis assim,

Eu canto o verdadeiro amor,

Más o mundo me acha ruim,

Este mundo não me encanta,

Tem cantigas que só espanta,

Não traz encantos para mim.

Eu nasci para ser um poeta,

Pois vejo a poesia em tudo,

Não tenho corpo de atleta,

Mas trago no peito escudo,

Versos é só para construir,

Nunca penso em denegrir,

Para não ter que ficar mudo.

E assim escrevo estes versos,

Homenageando a minha terra,

Juntando momentos dispersos,

De muita paz contra a guerra,

Enchendo de amor a saudade,

Buscando uma luz de verdade,

Neste brilho que vem da serra.

SAUDADES DE IGAPORÃ

Eu passei tanto pelo jardim,

Más não vi sequer uma flor,

Recordei do pé de jasmim,

Que plantei para meu amor.

Amor que foi se sem ciúmes,

E a flor exalou os perfumes,

Doces lembranças sem dor.

Depois na curva do vento,

Eu fiz a curva da estrada.

Sentindo o frio do tempo,

E o cansaço desta jornada,

E muito feliz desci a serra,

Sorrindo pisei nesta terra,

Que me pós na caminhada

Minha amada terra Igaporã,

Meu saudoso antigo bonito.

Te amo tanto e sou o seu fã,

E o meu amor é tão infinito.

Terra minha tu és meu xodó,

Até nos versos do meu forró,

O seu nome está bem escrito.

PRAÇA BERNARDO DE BRITO

(ANTIGA PRAÇA DA IGREJA)

Velha praça antiga igreja,

E o revoar das andorinhas.

Bem-dita para sempre seja,

Como foram as ladainhas.

Bem-dito também e divino,

O som daquele velho sino,

Aquelas rezadeiras rainhas.

Belas festas muitos festejos,

Missas e rezas e as novenas.

Risos com abraços e beijos,

E lágrimas em outras cenas.

Um mastro para o padroeiro,

Nas festas do mês de janeiro,

Tardes alegres noites serenas!

O Senhor Chico batia o sino,

E todos faziam aquela prece,

Pedindo forças ao pai Divino,

“Ajuda senhor quem padece”

Muita fé e orações tão plenas,

Naquelas belas noites serenas,

Que a gente jamais se esquece.

RUA SETE DE SETEMBRO

(ANTIGA RUA DE CIMA)

E a Rua sete de setembro,

Berço dos nossos artistas,

Daquele tempo me lembro,

Tanto como os saudosistas,

Saudades do violão e da viola,

Das brincadeiras e da bola,

Das procissões tão bonitas!

Esta foi minha querida rua,

E palco dos nossos artistas.

Dela agente namorava a lua,

Tanto que cansava as vistas

Ouvindo as doces canções,

Sentindo amor e emoções,

Junto de outros saudosistas.

E as noites daqueles tempos,

Eram noites assim tão calmas,

Nas quais se ouvia os ventos,

Vozes e violões, sem palmas,

Belas histórias sem televisão,

Brincadeiras de Pega Ladrão,

Com muita pureza nas almas.

PRAÇA MANOEL AZEVEDO

(VELHA PRAÇA DO JARDIM)

Praça linda do meu jardim,

Jardim desta minha cidade.

Quero outra flor para mim,

Só para matar esta saudade.

Quero sentir mais perfumes,

Que não provocam ciúmes,

Só retrocede a nossa idade.

Plantas, amêndoas e rosas,

Canteiros com outras flores,

Bancos, paqueras e prosas,

Amizades e muitos amores.

E as folhas secas pelo chão,

A grama verde e o calçadão,

E luzes iluminando as cores.

Foram tantas madrugadas,

Antes de cada amanhecer,

Pássaros faziam alvoradas,

Antes mesmo do sol nascer.

E um facho de luz brilhante,

Surgia num ponto distante,

Iluminando assim cada ser.

RUA SARGENTO VALNE FAGUNDES

(ANTIGA RUA DO PONTALETE)

A Velha rua do pontalete,

O caminho dos estudantes.

És para nós belo lembrete,

Daqueles tempos distantes.

Muitos passos tantos anos,

Sonhos lutas tantos planos,

Recordações apaixonantes.

Em todo sete de setembro,

Lindos desfiles das escolas.

Com saudades eu relembro,

Dos colegas e até das colas,

O viver era tão puro e belo,

Tudo era lindo e tão singelo,

Tal como os sons das violas.

A educação a festa e a saúde.

O Colégio, o ACRI e o posto.

Tantas recordações amiúde,

Sorriso aberto em meu rosto.

Passos com fé e esperanças,

Que ficaram nas lembranças,

Sem mágoas e sem desgosto.

PRAÇA OTAVIO MANGABEIRA

(VELHA PRAÇA DO MERCADO)

Para nós, praça do mercado,

“A atual Otávio Mangabeira”

Teve circo e parque armado,

Hoje nela ainda tem a feira.

Más falta o bar de Manezim,

E o sax sanfone de Tacilim,

Solando a Mulher Rendeira.

As noites de luar e serenata,

Canções que faziam sonhar,

Sonhos lindos e cor de prata,

Com a mesma beleza do luar.

O Reisado do senhor Joaquim,

E a voz apaixonada de Zezim

Com o velho violão num bar!

Parques, circos aqui armados,

Muitas diversões para cidade,

Deixava todos tão encantados,

Sorrindo com tanta felicidade.

O som rouco dos alto falantes,

E as declarações tão delirantes,

Para os amores sem falsidade.

RUA PROFESSOR WALDIR CARDOSO

Rua professor Waldir Cardoso,

Era a porta de entrada e saída.

Um olhar triste e tão saudoso,

Nos momentos da despedida,

Um dia chegaria a minha vez,

De dar um tchau para vocês,

Seres queridos de minha vida!

Um bar, um ponto de encontro,

As reuniões daquela juventude.

Emoções que me deixava tonto,

Recordações que me deixa rude,

Noites com sabor de cuba-libre.

A felicidade daquela vida livre,

E fantasias que ainda me ilude.

Velha rodagem, o restaurante,

Muita poeira logo na entrada,

Belas músicas no alto falante,

E uma mensagem bem falada.

“Gloria a Deus lá nas alturas,

“Paz para todas as criaturas”...

Velhas noites tão encantadas!

PRAÇA DO FORRÓ

(ANTIGO TANQUE DO GOVERNO)

O velho tanque do governo,

Agora só pertence ao povo.

Parecia um velho enfermo,

Más ficou tão belo e novo.

Passou também a ser praça,

Tem forró bom e de graça,

Por esta mudança eu louvo.

Eu sei que a praça é do povo,

E o forró é uma festa popular.

Nós queremos Zeca de novo,

Fazendo um som neste lugar.

Por que Zeca também pode,

Com samba, forró e pagode,

Fazer todo o povão dançar.

Era conjunto grupo ou banda,

Da nossa cultura um pedaço,

Tocou frevo, forró e ciranda,

O IGASON 7 e o trio sanhaço.

Nós tocamos com muita raça,

O primeiro forró desta praça,

Inauguramos assim o espaço.

RUA DOIS DE JULHO

E bem na rua dois de julho,

As manhãs de sol era festa,

Baladas, rocks um barulho,

E canções no estilo seresta,

Fortes abraços com desejos,

Abraços loucos com beijos,

Quantas saudades nos resta!

Tantas noites muitas farras,

Festas paqueras e gracejos.

E com acordes de guitarras,

Abraços tão fortes e beijos,

Más o poeta e a sua solidão,

Bebiam num copo da ilusão,

Um vinho tinto dos desejos.

E foram tantas madrugadas,

Muitas alvoradas e serestas,

Aquelas manhãs encantadas,

Sem a luz do sol pelas frestas,

O romantismo e as canções,

Encantavam tantos corações,

Naquelas noitadas de festas.

PRAÇA DA SAUDADE

(ANTIGA PRAÇA DO CEMITÉRIO)

A velha praça do cemitério,

Hoje nova praça da saudade,

Muitas incertezas e mistérios,

Nesta tão tristonha realidade,

Que para todos é a despedida,

Partida desta para outra vida,

Talvez no céu, na eternidade.

Soluços e lágrimas nos rostos,

Corações tristes amargurados,

Dores, saudades e desgostos,

Despedidas de seres amados,

Más, é só mais uma passagem,

Para seguirmos outra viagem,

Devemos ficar conformados.

O vento balança as palmeiras,

Trazendo do céu um recado,

“Estas dores são passageiras”

“E a vida segue no outro lado”

Não existe nenhum inferno,

Nós somos filhos do eterno,

“Não há morte e nem pecado”

RUA ALCEBIADES ALVES BOA SORTE

(ANTIGA RUA BRASILIA)

Era velha a Rua Brasília,

Nada a ver com a capital.

Nela tinha outra família,

De uma outra vida social,

Mulheres de outras sinas,

As tentações masculinas,

ET Cetera coisa e tal.

As águas de um chafariz,

Que escorriam pelo chão.

As nossas irmãs meretriz,

E os boêmios de plantão,

Pagando pelos carinhos,

Para não ficar sozinhos,

Tão perdidos na solidão.

As grades de uma cadeia,

Que prendia a liberdade.

De quem pisava na areia,

Do crime ou da maldade.

Um pandeiro e um violão,

No antigo bar de Manelão,

Para afugentar a saudade!

IGAPORÃ

Igaporã, velho bonito,

Gostamos tanto de ti,

Alguém disse e ficou dito,

Palavras que eu escrevi.

Orações , fé e verdades,

Recordações e saudades,

Amor que eu sempre vivi.

Simples foi esta homenagem,

Que eu fiz para a minha terra.

Nos caminhos desta viagem,

Subindo e descendo a serra.

Com muita emoção no peito,

Sem ódio e sem preconceito,

Na paz do amor, sem guerra!