Cordel desencantado
E não é que Jesus Cristo
Apareceu como ele era?
Em uma zona, ele foi visto
Conversando com uma puta
Que tinha cara de quimera
Doce menina ela era
De sofrimento e de luta
Rodeado de maconheiros,
De petistas, de sem terra,
De sem armas, de sem guerra
Sem amigos e sem teto
Nem parecia ter raça
Bebia cachaça de graça
Sem açúcar e sem afeto?
Jesus era negro e alto
E eu acho que vi direito direito
Tinha descido do salto
Tinha u'a cicatriz no peito
Nunca pisara no asfalto
Vai visitar o planalto
E o cara que for eleito
Dizer palavra que soa
Que é pra alertar o sujeito
Que ele não morreu á toa
Pra gente tá desse jeito
Que vai vigiar a pessoa
Que da arma a quem caçoa
Ferir de novo seu peito
Ele estava desarmado
E falava de degredo
A cara era de cansado
Pois tava lá desde cedo
Falou da vida de gado
De um povo desesperado
Que não precisa ter medo
Pra pobre puta e viado
Falou, que se for preciso,
Pra gente dá esse recado;
Constrói mais um paraíso
Pra por o pobre coitado
Bem longe do endinheirado
E deu um largo sorriso...