Quem canta, seus males espanta (2)

Você não viu?

Ele estava lá, em Brasília.

Apareceu até na TV, atrás daquela faixa preta em frente ao Senado.

Ele mesmo, o violeiro-repentista. Indignado com o rumo que as coisas acabam tomando em nosso país. Eu parei para ouvi-lo...

Julgando seu presidente,

Senado, em seção secreta

Declara o cara inocente.

Não foi quebrado o decoro!

Será alguma indireta?

Tão santo era, ora veja,

Dizia: (que desaforo)

“Eu vou rezar na igreja”

O pessoal vaiava, assobiava, mas todos tinham certeza do alvo das vaias: Aliás, dos alvos... Todos os 47! (40 absolvições, 6 abstenções, e o dito cujo propriamente dito). Apesar da gritaria geral, continuei conseguindo escutar:

Foi só o primeiro tempo.

Sujeira há em excesso.

Se não houver contratempo,

No fim, quem sabe, dão jeito.

Serão os outros processos

Desse primeiro uma cópia?

Não há juízo perfeito

Em júri de causa própria!

Parece até que foi o sinal de partida. O pessoal do protesto resolveu sair em uma espécie de passeata, e isso diminuiu um pouco a barulhada, permitindo que se escutasse melhor. Aquele é o tipo de artista nunca fica sem público. E muito menos, sem assunto!

Mas o que mais me aborrece

Não é o povo que apóia,

Nem mesmo o que se esquece.

É só o que não faz nada,

Alheio a toda tramóia

Em apatia infinda.

Tem gente mais preocupada

Com a barriga da gringa.

Que danado! O cara ao mesmo tempo criticava os que “não estão aí nem vão chegando” e os que “desceram a ripa” na cantora americana. Não que ela não merecesse. Enfim, isso era problema dela. Nós já tínhamos bastantes e variados.

Um fato ousado e sinistro:

Mandaram bala no trem

E quase acertam um ministro.

Problemas? Quem admite?

Sossego? O povo não tem.

Se ouve é muita bravata!

A tal da “Tropa de Elite”

Só viram em cópia pirata.

“É o trem-bala”, gritou um. O povo se deleitava nas ironias que iam aparecendo aqui e ali.

Pior que o trem alvejado,

E o trem batido em Austim,

É o que está programado.

O tal do “trem da alegria”.

Protecionismo sem fim

Que dá mais força ao blefe:

Que o Estado até faliria

Com o fim da CPMF.

“Fala uma coisa engraçada”, disse uma moça. “Engraçado é o seu salário comparado com o deles lá, ó”, respondeu um servente, apoiado em sua bicicleta. Mas a moça foi atendida.

Sarkozi mostra os pneus

O Putin, a musculatura

Comento cá com os meus:

Se fosse em nosso país,

Com essa nossa cultura,

Quem sabe haveria briga.

Talvez pedissem até bis!

Ao verem certa barriga...

“Tava demorando...” Como sempre, não se consegue agradar a todos. Um cidadão com o abdômen mais avantajado deu uma risadinha amarela. Apesar de tudo, o grupo dos que pareciam estar se divertindo ainda era maior do que o grupo de sisudos. Um estatístico poderia até dizer que era vício de amostra, mas... Como não tinha nenhum estatístico presente...

E em nossa Economia

Se é que não me confundo

Um pouco mais cada dia

O álcool estamos vendendo

Viaja por todo o mundo

O vendedor, cara astuto.

Se o povo não está vendo,

Ele prova do produto.

No final, como sempre, ele agradeceu os aplausos e a atenção de todos, botou a viola no ombro e foi se afastando. O povo, se dispersando. A maioria em breve estaria em casa, e à noite dormiriam um sono tranqüilo.

E aqueles 47?...

Sérgio Serra
Enviado por Sérgio Serra em 13/09/2007
Código do texto: T650175